Depois de transmitir o clássico contra o Coritiba pelas redes sociais, o Atlético Paranaense criou a Cap Play, um canal de televisão em que profissionais de mídia vão transmitir as partidas do time. A iniciativa é uma alternativa à venda dos direitos de transmissão para as emissoras tradicionais de TV e mais um round da batalha com a Rede Globo.
A diretoria do clube paranaense questiona a distribuição das cotas de televisão. O último acordo prevê pagamentos de R$ 170 milhões para Flamengo e Corinthians, enquanto que o Atlético e outros clubes de menor torcida recebem cerca de R$ 80 milhões – uma diferença de R$ 90 milhões. No Campeonato Paranaense, o Atlético não aceitou a cota de R$ 1 milhão e transmitiu o clássico no YouTube e Facebook. Na TV fechada, foi um dos líderes da ruptura com a Globo e assinatura com o Esporte Interativo para 2019/2024.
Essa briga é antiga. Em 1997, os clubes conseguiram R$ 57 milhões do SBT, mas a Globo cobriu a oferta. “O monopólio da Globo é uma total e absoluta injustiça. O bolo cresceu e temos de trabalhar na divisão. Há uma guerra andando”, disse Mario Celso Petráglia, presidente do Conselho Deliberativo do Atlético.
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que regula mercados e combate monopólios, confirmou que “há um procedimento preparatório (fase preliminar de apuração) em trâmite para analisar alguns aspectos concorrenciais dos direitos de transmissão de jogos de futebol”. Isso pode gerar um inquérito administrativo ou arquivamento, mas o órgão afirma que não há prazo para a conclusão.
A Globo não se pronunciou oficialmente, mas fontes ligadas à emissora dizem que “ninguém apresentou propostas nos últimos anos”. Especialistas afirmam que a oferta para 2018 será mais igualitária, com 40% da cota divididos por todos, 30% por classificação e 30% pelo número de jogos.
O jornal O Estado de S.Paulo foi conhecer de perto o clube que peita a Globo há 20 anos e que encontrou inspiração nos moldes europeus de gestão e planos estratégicos atualizados a cada cinco anos. Petráglia comentou que o clube tem dois diferenciais: a cultura empresarial e a infraestrutura.
Com menos grana da TV que outros, o Atlético foi beber em fontes diferentes de receitas. Uma delas é a formação de jogadores. Construiu o CT do Caju, onde a seleção brasileira já ficou, e hoje investe R$ 3 mil por mês na formação de cada atleta. O modelo vem dando certo. Nas últimas décadas, lucrou cerca de US$ 400 milhões (R$ 1,3 bilhão) em negociações (nem tudo fica em casa por causa do fatiamento dos contratos). A lista é longa. Começou com Paulo Rink e Oséas. Hernani foi vendido ao Zenit St.Petersburg, da Rússia, em dezembro por 10 milhões de euros, cerca de R$ 33,2 milhões.
Desde 1995, o Atlético construiu uma arena própria, a primeira com teto retrátil da América Latina, cujo investimento foi de R$ 346 milhões, mais ou menos um terço do custo do estádio Itaquerão (a Arena Corinthians) – as duas têm 42 mil lugares. Resta ainda uma dívida de R$ 100 milhões com o governo estadual que deverá ser paga em 20 anos.
O próximo passo é a construção de um ginásio multiúso, ao lado do estádio, com capacidade para 10 mil pessoas. O clube busca parceiros. “O Atlético é um modelo de clube com planejamento estratégico”, avaliou Pedro Daniel, gerente de Esportes da consultoria BDO.
No campo, foi campeão brasileiro das Séries A e B e chegou a cinco edições de Copa Libertadores. Quer ganhar o mundo até 2024, ano do seu centenário. “Nossa meta é que nos vejam como candidatos aos títulos”, disse Petráglia. As transmissões dos jogos no YouTube vão continuar.