Diante de episódios sempre mais frequentes de eventos climatológicos extremos, com temporais que acabam por derrubar o fornecimento de energia, um número cada vez maior de empresas vem buscando alternativas para superar as instabilidades da rede e garantir a continuidade das operações. É para atender a esse tipo de demanda que a Matrix Energia criou um serviço de sistema de armazenamento de energia, BESS (Battery Energy Storage System), atraindo parceria com a gigante chinesa Huawei.

Após passar os últimos dois anos investindo em ativos de geração distribuída para atender a clientes de baixa tensão, a empresa entra em um novo ciclo de investimentos de mais de R$ 500 milhões, a serem realizados até 2025, para trazer a tecnologia que, segundo afirma, permite oferecer uma energia “segura e constante”, superando as intermitências do fornecimento energético mesmo durante falhas ou manutenções da rede elétrica.

“Em 36 meses a 48 meses vamos investir até R$ 1 bilhão – alocados entre geração distribuída e baterias; a lógica é ter soluções para atender todos os potenciais consumidores de energia e também começar a trazer soluções mais customizadas no próprio local do cliente”, explica o CFO da Matrix, Federico Marsano.

De acordo com ele, o plano da companhia é que essa nova unidade de negócios de “serviços e soluções” se torne um pilar relevante da geração de caixa da empresa, respondendo por mais de 20% do Ebitda (sigla em inglês para “lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização”) a partir de 2026.

A empresa ainda não fechou os números de 2023, mas citou a previsão de fechar com Ebitda de cerca de R$ 170 milhões, com um faturamento acima de R$ 2 bilhões. O patrimônio da companhia soma de quase R$ 1,1 bilhão.

Em instalação

Os primeiros R$ 100 milhões de investimentos nesse novo negócio já foram realizados e as primeiras baterias estão sendo instaladas, junto a três diferentes clientes, entre eles o Mercado de Santo Amaro, em São Paulo. Segundo o diretor da nova área de serviços e soluções (Energy as a Service), Alexandre Gomes, há um extenso mapa de vendas para a unidade, que inclui, mas não se resume, a estratégia de venda cruzada com clientes da empresa. Hoje a Matrix tem mais de 1.500 clientes no mercado livre e prevê chegar a 70 mil clientes de geração distribuída até o fim do ano.

O modelo de negócios desenhado é “As a Service” (SaaS), no qual o consumidor não realiza investimentos e os custos de aquisição da bateria e instalação do equipamento são assumidos pela Matrix. Gomes explica que para além das baterias em si, a solução da Huawei possui uma tecnologia que permite melhor gestão do consumo elétrico e até mesmo redução de emissões de carbono, além de garantir disponibilidade, continuidade e qualidade do fornecimento, eliminando oscilações.

“Não é um produto ‘standard’ de prateleira, depende da operação do cliente, da criticidade, do ponto de vista ótimo econômico, é uma bateria de autonomia de três a quatro horas, mas depende do fator de carga dele e de quando usa a bateria e tem o pico de consumo”, explica.

Os contratos têm duração de cinco anos e oferecem um desconto no custo final da energia do consumidor, em reais por megawatt-hora (MWh), que pode variar de 5% a 15%, a depender da estrutura de custo, sem dispêndio de valores, nem no equipamento e instalação, nem em operação e manutenção. Gomes não dá detalhes do que torna a solução rentável para a Matrix, mas afirma que “o milagre dessa história é a certeza que vamos ficar muito tempo”.

Num primeiro momento, o foco são os clientes com operações críticas e de maior porte, mas a intenção é expandir para outros públicos, não apenas da carteira da comercializadora, mas de consumidores atendidos por outros agentes do mercado.

A empresa espera conquistar 200 MWh comercializados até o fim do ano, sendo metade já instalados até dezembro.

Ambição

O executivo explica que o serviço de armazenamento é apenas o primeiro produto da área de negócios. A intenção é ampliar o portfólio com outras soluções “do medidor pra dentro” que atendam às necessidades dos consumidores, como infraestrutura de carregamento, automação, subestação etc. A ideia é atuar em todas as frentes relevantes relacionadas com fornecimento de energia.

“Armazenamento é nosso carro-chefe, nossa estrela, e estamos começando por isso, mas a ambição é bem maior: dentro do que a gente chama aqui de ecossistema Matrix, a gente olha de fato como o cliente consome a energia”, disse.

Segundo ele, a Matrix optou por iniciar com os sistemas de armazenamento por ser uma tecnologia já consolidada no mundo e que oferece serviços com demanda em alta no setor elétrico.

Capital

Marsano salientou que os investimentos planejados estão sendo feitos inicialmente com “equity” e, para isso, os acionistas da Matrix – DXT International S.A. (50,01%) e fundos de investimento sob gestão da Prisma Capital (49,99%) – fizeram aportes de R$ 150 milhões em 2023 e têm planos de realizar mais R$ 100 milhões neste ano.

Adicionalmente, a companhia está realizando financiamentos dos ativos de geração recém-construídos, tendo já acertado uma linha com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e uma emissão de debêntures verdes. Isso propiciará recursos adicionais para novas empreitadas.

“A ideia é basicamente fazer uma estratégia parecida (da feita com GD): primeiro, vamos colocar equity, depois buscamos financiamento, sendo que como é um negócio muito novo no Brasil, embora estejamos em discussão com bancos, entendemos que precisamos contar com equity para o início do projeto”, disse.

Questionado sobre a possibilidade de uma abertura de capital, seguindo uma trajetória já buscada por outras comercializadoras, Marsano disse que o foco atual é na execução do plano estratégico, visando a construção de uma companhia com origem de receita diversificada e com carteira de clientes diferenciada. “Depois, é claro, se mercado dá oportunidade, pode ser viável”, disse.