19/02/2024 - 18:51
A atriz Susana Vieira, de 81 anos, que sempre gera polêmica com suas declarações sinceras, voltou a dar o que falar. Em entrevista ao canal Multishow durante a cobertura do Desfile das Campeãs na Sapucaí, Rio de Janeiro, no último sábado, 17, a veterana alfinetou seus colegas da TV Globo ao dizer que renovou seu contrato com a emissora em meio a série de demissões em massa.
“Tô na Globo! Renovei o contrato com a Globo. Tenho que falar, porque está todo mundo assim…”, afirmou Susana, fazendo gesto com o polegar para baixo, em sinal de desaprovação.
Nos últimos anos, a Rede Globo tem encerrado o contrato fixo de vários artistas veteranos, como Antonio Fagundes, Stenio Garcia, Marieta Severo, Osmar Prado, entre outros grandes nomes. Agora, o objetivo da empresa é cortar os altos salários e fazer apenas um contrato por obra, algo que acaba deixando os atores livres para negociar trabalhos em outras emissoras ou plataformas de streaming.
Contrato vitalício e salário alto na Globo
Em maio do ano passado, o colunista Alessandro Lo-Bianco, do programa “A Tarde é Sua”, informou que a TV Globo resolveu reduzir o valor do salário da atriz Susana Vieira. A justificativa da emissora seria uma suposta redução de custos.
Ainda segundo Lo-Bianco, a Globo estaria tentando negociar com alguns contratados para mantê-los no elenco fixo. O reajuste de Susana reduziria o salário dela em R$220 mil e passaria a receber R$30 mil reais por mês, e não R$250 mil, como recebia anteriormente.
O único adendo do contrato da artista é que ela receberia um acréscimo em seu salário sempre que tivesse algum projeto sendo transmitido pela emissora.
Já de acordo com o portal F5, do jornal Folha de S. Paulo, Susana Vieira renovou com a Globo até 2027. E existe boatos nos bastidores que o contrato da veterana é considerado vitalício.
A Globo está falindo?
A IstoÉ Gente conversou com Higor Gonçalves, jornalista especializado em gestão estratégica de imagem, que fez uma análise sobre o assunto e explicou a nova reformulação da emissora.
“A imagem da Globo, ou seja, a forma como a emissora é vista pelo público, sofreu diversas transformações ao longo do tempo. Da fundação, em 1965, à consolidação como rede nacional de televisão, dez anos depois, passando pela expansão das operações e pela chegada à liderança de audiência, a empresa conquistou uma reputação valiosa. Uma imagem construída a partir de decisões empresariais assertivas, de inovações tecnológicas, produtivas e comerciais bem implementadas, e, não menos importante, de uma gestão de talentos competente. Todos esses elementos, em paralelo a acordos político-econômicos estratégicos para a empresa e a contingências, como a histórica inundação que atingiu o Rio de Janeiro em 1966 e que foi coberta ao vivo pela Globo, ajudaram a construir a reputação da emissora. Uma imagem ora controversa, é verdade, mas também de prestígio, diga-se de passagem. Quem não se lembra, por exemplo, de expressões como ‘padrão Globo de qualidade’ e ‘toda-poderosa’?”, começa o especialista.
“Ocorre que, com a chegada do século 21, e a reboque de transformações político-econômicas, sociais e tecnológicas da primeira década dos anos 2000, a emissora começou a sofrer constantes quedas de audiência, mesmo emplacando produtos de sucesso. Na época, o aumento da renda média causou mudanças nos hábitos de consumo da população, que passou a sair de casa com mais frequência e a migrar para outras fontes de informação e entretenimento. No mesmo período, a internet começou a se popularizar e a atrair parte do público das emissoras abertas de televisão. Um amplo estudo realizado pela Kantar Ibope Media sobre a audiência das TVs abertas brasileiras constatou que, entre 2001 e 2021, a Globo perdeu cerca de 1 em cada 3 telespectadores. A média nas 24 horas do dia em rede nacional, que era de 20,5 pontos em 2001, caiu para 15,3 pontos vinte anos depois. A Globo não foi a única emissora a perder espectadores. Com o crescimento do acesso à internet e a popularização do uso de dispositivos móveis, como celulares e smartphones, uma parcela considerável do público das TVs passou a se inteirar dos acontecimentos e a se entreter de modo online, a partir de portais de notícias, mídias sociais, jogos eletrônicos e serviços de streaming”.
“As mídias digitais conquistaram uma parte significativa do público. Com a debandada da audiência para outras plataformas, a publicidade também dispersou-se. Se antes as TVs disputavam as verbas dos anunciantes apenas com veículos como rádios, jornais e revistas, por exemplo, as alternativas para a exibição de publicidade passaram a ser diversas. Instaurou-se uma ‘guerra pela atenção’. Que, neste momento, está acirradíssima. A Globo vem sentindo esse efeito há cerca de uma década, mas, há pelo menos cinco anos, percebendo que a conjuntura não iria melhorar, começou a enxugar despesas por meio do projeto ‘Uma Só Globo’. A primeira fase ocorreu entre 2018 e 2021, com o intuito de transformar cinco operações do Grupo Globo, incluindo a própria TV Globo, numa única empresa. A intenção era integrar equipes e estruturas, desenvolver novas áreas de atuação, criar novos negócios, buscar fontes alternativas de receitas, e, principalmente, transformar a empresa que estava nascendo em uma ‘media-tech’, capaz de entregar conteúdos e serviços por meio de métodos online que combinam mídia e tecnologia digital, como Netflix e Spotify, por exemplo. Acontece que a primeira etapa da reestruturação chegou ao fim, no segundo semestre de 2021, sem muito a comemorar”, analisa.
“Renegociação de contratos, venda de propriedades e desligamentos de colaboradores tornaram-se uma constante na Globo, que está atravessando um intenso processo de digitalização e focando todas as energias no Globoplay. É importante falar que outros grupos de mídia robustos, no Brasil e no mundo, estão se reestruturando, promovendo cortes e tentando equilibrar despesas e receitas para manterem-se competitivos. No entanto, em termos de imagem, ou seja, de percepção, o caso da Globo é diferente: parte do público tem rejeitado a emissora, sobretudo nos últimos dez anos, por enxergar um suposto alinhamento político-ideológico com pautas consideradas de esquerda. Os atritos públicos com o último governo federal, que foi eficiente em propagar a ideia que a Globo era esquerdista, que conspirava contra o país e que dependia exclusivamente das verbas de patrocínio estatal antes de 2019, também contribuíram para a mudança da percepção. Todos esses fatores, somados às divulgações nos últimos anos de prejuízos financeiros milionários, de demissões voluntárias e compulsórias de famosos e anônimos, e, principalmente, de uma gestão de crise de imagem corporativa ineficaz por parte da empresa, estão transmitindo a impressão de falência. É como um império que está desmoronando. Mas, o fato é que o Grupo Globo não está falindo. Uma evidência incontestável, segundo levantamento recente divulgado pela revista Forbes, é que a família controladora do conglomerado se mantém entre as mais ricas do País.”