10/01/2024 - 14:23
Com três metros de altura, Gigantopithecus blacki era um macaco gigante que vagou pelas selvas da Ásia por muito tempo, antes de desaparecer da face da Terra há mais de 200 mil anos.
E tudo indica que a causa foi a sua incapacidade de adaptação às mudanças ao seu entorno, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (10).
A extinção do maior primata de todos os tempos, com peso entre 200 e 300 quilos, era um dos grandes mistérios da paleontologia desde que seus primeiros fósseis foram encontrados na década de 1930.
Naquela época, um paleontólogo alemão encontrou o que acreditavam ser um “dente de dragão” em uma farmácia em Hong Kong.
“Era três ou quatro vezes maior do que qualquer grande macaco. Isso o intrigou e assim a pesquisa começou”, conta Renaud Joannes-Boyau, professor da Southern Cross University, na Austrália, um dos principais autores do estudo publicado na revista Nature.
Centenas desses fósseis de mandíbulas e dentes desta espécie foram encontrados em cavernas na província de Guangxi, no sul da China.
Apesar de dez anos de escavações, os cientistas não conseguiram determinar quando o Gigantopithecus blacki foi extinto e o porquê, explicou o professor Yingqi Zhang, do Instituto de Paleontologia da Academia Chinesa de Ciências, co-autor do estudo.
Em vez de investigar local por local, uma equipe de cientistas chineses, australianos e americanos trabalhou conjuntamente em 22 cavernas, algumas das quais nunca haviam sido escavadas. Nelas encontraram dentes fossilizados com idades entre 2 milhões e 250 mil anos.
Eles combinaram seis métodos diferentes de datação, incluindo a análise de sedimentos por luminescência, que permite saber quando foram expostos à luz do dia pela última vez. A equipe também utilizou a datação de restos de pólen, que é um indicador valioso da evolução da vegetação.
Todos os métodos buscavam “ter uma cronologia bem definida do meio ambiente de cada local, mesmo aqueles onde o Gigantopithecus blacki deixou de aparecer”, explica o professor Joannes-Boyau, especialista em geoquímica.
Seus resultados permitiram determinar uma “janela de extinção” para a espécie: entre 295 mil e 215 mil anos. Isto corresponde a um amplo período de ciclos glaciais denominado Pleistoceno, quando o planeta viveu um resfriamento global.
Como consequência, “o aparecimento das estações transformou a vegetação e causou períodos de escassez de frutos” nas exuberantes florestas tropicais onde a espécie vivia, explica a pesquisadora Kira Westaway, da Universidade Macquarie, na Austrália, co-autora do estudo.
O Gigantopithecus blacki, que se movimentava apenas pelo solo, aos poucos viu sua área de busca por alimentos diminuir e passou comer cascas e pequenos galhos.
“Eles cometeram um grande erro ao se especializarem nesses alimentos de emergência, que são muito fibrosos e menos nutritivos”, explicou Yingqi Zhang em entrevista à AFP em Pequim.
Seu tamanho muito grande retardou a agilidade necessária para encontrar recursos mais variados. Esta desvantagem acabou piorando porque “surpreendentemente, o seu tamanho aumentou” ao longo do tempo, observa Westaway.
O animal então começou a sofrer de “estresse crônico de longa duração”, que se reflete em seus dentes. A população diminuiu gradualmente e a espécie acabou extinta.
Ao contrário deles, seus contemporâneos, os orangotangos da espécie Pongo weidenreichi, próximos do Gigantopithecus, resistiram: eram menores e mais ágeis, capazes de se deslocar pelas copas das árvores para encontrar uma dieta mais variada (folhas, nozes, insetos, pequenos mamíferos, etc).
Essa versatilidade se fortaleceu à medida que seu tamanho diminuiu com o tempo. Apesar disso, o Gigantopithecus não foi o único animal da megafauna do Pleistoceno que desapareceu.
Segundo Westaway, “explorar estas extinções não resolvidas nos permite compreender os mecanismos de resiliência nos animais de grande porte, tanto no passado como no futuro, frente à ameaça de uma sexta extinção em massa” de espécies.
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