O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, é alvo de uma investigação da Polícia Federal que apura desvio de recursos, recebimento de propina e fraude em licitação, em um suposto envolvimento em esquema de corrupção na época em que ele era vereador e vice-governador na chapa de Wilson Witzel.

Na tarde desta quarta-feira, 20, o chefe do executivo teve os sigilos bancários e telefônicos quebrados por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Além dele, o irmão do governador também é alvo de buscas e apreensão da PF.

Claudio Castro assumiu o governo do Rio de Janeiro em abril de 2021, após o impeachment de Wilson Witzel, eleito para o mandato de 2019 a 2022, e depois se elegeu no último pleito.

Agora, Castro figura na lista de governadores investigados, que é imensa. Na linha do tempo, o ex-governador Sérgio Cabral, seu vice e, posteriormente, governador eleito, Luiz Fernando Pezão, seguido por Wilson Witzel e, por fim, seu ex-vice que também foi eleito para comandar o executivo estadual.

O Rio de Janeiro tem histórico de governadores investigados em casos de fraude, uma linha ininterrupta que começou lá atrás nem se sabe ao certo quando. Anthony Garotinho foi eleito para o mandato de 1998 a 2002, e sucedido por sua esposa, Rosinha Matheus, que ganhou a eleição em primeiro turno. Ambos foram presos em 2017 em operação da PF que investigava crimes eleitorais.

Parece uma triste ‘tradição’ política que os governantes insistem em manter. Para o cientista político *João Feres Junior, professor titular de Ciência Política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o histórico do estado pode ser verificado mais como uma coincidência do que por razão concreta.

“Não há uma só causa suficiente que explique essas várias ocorrências. Fazendo um exercício interpretativo, me parece que há um etos político duplo no Rio. Por um lado, há a sociabilidade com tons aristocráticos da elite carioca, reminiscente dos tempos da Corte. Por outro, temos uma sequência de governadores que, com a exceção de Sergio Cabral, não advém desses meios da elite tradicional, como por exemplo Garotinho, Pezão, Witzel e Castro, e que adotam um estilo populista de comunicação”, declara.

Apesar de não ser possível observar objetivamente a condução da política estadual, Feres aponta que alguns aspectos sociais possam contribuir para a manutenção do cenário do poder executivo fluminense.

“Combinação de políticas das elites com a fraqueza da sociedade civil organizada e com a falta de movimentos sociais mantém o estado sob a mesma vigilância”, arrisca ele, que destaca as diferenças entre os últimos governantes do estado.
Apesar de Castro ter composto a chapa de Witzel, os perfis são completamente diferentes e as causas para as investigações também.

“Castro tem maioria na Alerj (Assembleia Legislativa do RJ), está em posição confortável. O presidente da casa é ex-secretário do governo anterior e seu aliado próximo, o que garante um ‘colchão de proteção’. Dificilmente será impichado”, observa ele, ao lembrar que foi por um processo de impeachment o anterior deixou o Palácio Guanabara.

“Witzel insistiu na imagem do outsider da política, falhou em compor uma coalizão de sustentação e teve seu mandato cassado pela ALERJ”, completa ele.

Já Cabral e Pezão, os antecessores, foram condenados pelo judiciário e presos por participação em esquema de propina quando estavam em exercício do poder executivo.

*João Feres Junior é cientista político, professor titular de Ciência Política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mestre em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (1997), mestre e doutor em Ciência Política pela City University of New York. É professor titular de ciência política do IESP-UERJ coordenador do Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (GEMAA), do Laboratório de Estudos de Mídia e Espaço Público (LEMEP) e do Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB).