O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, tentou sem sucesso em Tel Aviv nesta sexta-feira (3) obter “pausas humanitárias” para proteger civis na Faixa de Gaza, onde o movimento islamista palestino Hamas denunciou ataques israelenses a uma ambulância e uma escola.

O Ministério da Saúde deste território palestino controlado pelo Hamas disse que o ataque à ambulância ocorreu em frente ao hospital Al-Shifa e causou 15 mortes e 60 feridos.

Um porta-voz do movimento islamista afirmou que a ambulância fazia parte de um comboio para transportar “vários feridos para serem hospitalizados no Egito”, mas o Exército israelense disse que era “usada por uma célula terrorista do Hamas”.

Um repórter da AFP testemunhou muitos corpos e várias pessoas feridas perto de uma ambulância atingida pelo ataque.

O diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse na rede social X, antigo Twitter, estar “totalmente chocado com os relatos de ataques a ambulâncias que evacuavam pacientes perto do hospital Al-Shifa em Gaza”.

As autoridades de saúde do Hamas em Gaza também denunciaram um ataque “direto” de Israel contra uma escola no norte do território que resultou em “20 mártires e dezenas de feridos”.

Esses eventos coincidem com a visita de Antony Blinken a Tel Aviv, que saiu de mãos vazias depois de pedir “pausas humanitárias” neste conflito que entra em sua quinta semana.

Blinken se encontrará no sábado em Amã com os ministros das Relações Exteriores de cinco países árabes, preocupados com o saldo de mortes na Faixa de Gaza e com as repercussões do conflito.

– Netanyahu rejeita “trégua temporária” –

A guerra começou quando comandos do Hamas penetraram em Israel e mataram mais de 1.400 pessoas e capturaram cerca de 240 como reféns, de acordo com o balanço israelense.

Segundo o Hamas, que governa Gaza desde 2007, os bombardeios israelenses lançados desde então deixaram mais de 9.200 mortos, incluindo mais de 3.800 crianças, no território palestino, que tem 362 km² e cerca de 2,4 milhões de habitantes.

Durante sua reunião com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, Blinken pediu para “fazer mais” para proteger a população e “pausas humanitárias” para permitir “uma distribuição mais eficaz e sustentada da ajuda”.

No entanto, Netanyahu rejeitou qualquer “trégua temporária sem a libertação dos reféns” capturados pelo Hamas.

Um alto funcionário da Casa Branca disse na noite desta sexta-feira de Washington que a libertação dos reféns exigirá uma “pausa muito significativa no conflito” e informou que discussões a respeito estavam em andamento, mas admitiu que não havia “garantia” de que “isso vá acontecer”.

Coincidindo com a visita de Blinken, o Pentágono admitiu que estava usando drones desarmados para ajudar em possíveis missões de resgate dos reféns.

– Caminhões de ajuda seguem entrando em Gaza –

Na França, o presidente Emmanuel Macron anunciou uma “conferência humanitária” em 9 de novembro em Paris e também pediu uma trégua “porque a luta contra o terrorismo não justifica sacrificar civis”.

Há quase um mês, os 2,4 milhões de habitantes da Faixa vivem sob bombardeios constantes e sob um cerco imposto por Israel, que cortou o fornecimento de água, comida, eletricidade e combustível.

Mais de 420 caminhões de ajuda humanitária entraram neste território desde 21 de outubro, de acordo com a ONU, que considera essa quantidade muito insuficiente.

Esses comboios entram do Egito pelo ponto de fronteira de Rafah, o único em Gaza não controlado por Israel, de onde também centenas de feridos e pessoas com passaporte estrangeiro foram evacuados.

O Ministério da Saúde do Egito disse na sexta-feira que 17 feridos e 448 estrangeiros ou pessoas com dupla nacionalidade deixaram o território sitiado.

Em contrapartida, pelo ponto de fronteira vizinho de Karem Abu Salem, Israel começou a enviar de volta milhares de trabalhadores de Gaza que estavam bloqueados em seu território desde o ataque do Hamas no início de outubro.

“Há 25 dias estamos na prisão e hoje nos trouxeram aqui, não sabemos nada do que está acontecendo em Gaza, não temos ideia da situação”, contou à AFP Nidal Abed.

– Hezbollah alerta para “guerra total” –

Israel, que prometeu “aniquilar” o Hamas, iniciou na última semana uma operação terrestre na Faixa que permitiu cercar completamente a cidade de Gaza, segundo informou seu exército na quinta-feira.

Netanyahu celebrou os “impressionantes sucessos” no terreno, mas reconheceu “perdas dolorosas”, com até 341 soldados mortos desde o ataque do Hamas no início de outubro.

O porta-voz do braço armado do Hamas advertiu que Gaza “será uma maldição na história de Israel” e muitos de seus soldados “voltarão em sacos negros”.

Os temores de uma escalada regional aumentaram com a multiplicação dos duelos de artilharia entre Israel e o Hezbollah, no sul do Líbano.

O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou em seu primeiro discurso desde o início da guerra que a possibilidade de “uma escalada adicional ou uma guerra total” era “realista” e poderia “ocorrer”.

“Quem quiser evitar uma guerra regional deve deter rapidamente a agressão em Gaza”, afirmou Nasrallah, responsabilizando os Estados Unidos pelo conflito.

A guerra também piorou a situação na Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967, onde na sexta-feira oito palestinos morreram em uma série de incursões do exército israelense.

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