Marine Le Pen lidera desde janeiro as pesquisas para o primeiro turno da eleição presidencial francesa, e, apesar de ser apontada sistematicamente como perdedora no segundo turno, a candidata da extrema direita tem ganhado terreno frente a Emmanuel Macron ou François Fillon.

“O impossível torna-se possível. O vento da história virou, ele vai nos levar ao topo”: Marine Le Pen acredita em sua vitória na eleição de abril-maio, como anunciou a seus partidários no comício que lançou sua campanha no início de fevereiro, em Lyon (centro).

No entanto, desde a primavera de 2013, se todas as pesquisas, em todas as configurações, apontam Le Pen no segundo turno, preveem sua derrota no final.

Marine Le Pen repetiria, assim, o feito de seu pai Jean-Marie, veterano da extrema-direita francesa que conseguiu qualificar-se em 2002 para o segundo turno da eleição presidencial, onde ele foi, porém, esmagado pelo presidente de direita, Jacques Chirac, eleito para um segundo mandato com mais de 82% dos votos.

E isso, apesar da pressão judiciária que cresce sobre ela: vários de seus parentes foram indiciados pela justiça em casos de financiamento de campanhas eleitorais da Frente Nacional ou empregos fictícios para assistentes no Parlamento Europeu.

Hoje, para enfrentar a presidente da Frente Nacional, creditada com 27% dos votos no primeiro turno, aparecem Emmanuel Macron (25%), centro-esquerda, e François Fillon (20%), direita, como seus mais prováveis adversários.

Fillon, que venceu com facilidade a primária da direita, aparecia no final de novembro com 67% das intenções de voto contra 33% para Le Pen no segundo turno. Mas, em razão do escândalo que tem enfrentado relacionado ao emprego fictício de sua esposa e filhos, o candidato da direita caiu para 55% contra 45% de Marine.

Já frente a Emmanuel Macron, ex-ministro da Economia de François Hollande, a distância em meados de janeiro era de 30 pontos, caindo quase para a metade atualmente (58-60% para Emmanuel Macron contra 40-42% para Marine Le Pen).

– Dinâmica eleitoral –

Os militantes da Frente Nacional acreditam na vitória de Marine Le Pen em um contexto particularmente favorável, com o voto pelo Brexit em junho e a chegada de Donald Trump à Casa Branca. “Veremos em março”, diz um deles.

“Acredito que Le Pen pode ser eleita”, advertiu recentemente o ex-primeiro-ministro de direita Jean-Pierre Raffarin.

“Agora podemos dizer que um cenário em que Marine Le Pen vence a eleição presidencial não está totalmente excluído, a dois meses da votação”, assegura, por sua vez, Emmanuel Riviere, diretor do instituto Kantar TNS.

“Há, sem dúvida, uma dinâmica da Frente Nacional neste país e isso não data desta eleição. A Frente Nacional venceu as eleições europeias de 2014, o primeiro turno das regionais de dezembro de 2015”, lembra Bruno Cautrès, professor do Instituto de Ciências Políticas em Paris, entrevistado na segunda-feira pela rádio RTL.

Além das vitórias recentes, o pesquisador nota que o eleitorado de Marine Le Pen é “sem dúvida o mais cólido atualmente, está nos meios populares, entre os trabalhadores pobres, aqueles que se sentem excluídos”.

As eleições regionais de 2015 entreveem, no entanto, uma derrota: apesar dos resultados impressionantes no primeiro turno, Marine Le Pen no norte da França e sua sobrinha Marion Maréchal-Le Pen no sul, foram derrotadas no segundo turno por candidatos da direita, após uma forte mobilização da esquerda.

Para o pesquisador Joël Gombin, especialista na FN, Marine Le Pen não dispõem de apoio suficiente para o segundo turno. “Onde estão as reservas de votos necessários para superar os 25% ou mesmo 30 a 50%?”, questionou recentemente no Twitter.