A população israelense foi surpreendida na manhã de sábado, 7, com ataques do grupo islâmico Hamas, que deixou mais de mil mortos até o momento. De imediato, diversos países ocidentais repudiaram o ocorrido. Porém a mesma postura não é vista, muitas vezes, em relação às agressões sofridas pelos palestinos.

Resumo:

  • O grupo islâmico Hamas atacou grandes cidades israelenses na manhã de sábado, 7;
  • Além disso, os integrantes do grupo levaram alguns civis como reféns;
  • Até o momento, o conflito em Israel deixou mais de mil mortos.

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Um dos alvos do Hamas foi o festival de música eletrônica “Universo Paralelo”, que tinha cerca de 3 mil pessoas e ficava a menos de cinco quilômetros da fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza, local onde há forte presença do grupo islâmico.

Em entrevista à ISTOÉ, James Onnig, que é geógrafo e atua como professor do laboratório em pesquisa de Relações Internacionais da FACAMP (Faculdades de Campinas), explicou que o Hamas se organiza de maneira secreta na área urbana da Faixa de Gaza, território que tem sua área marítima, aérea e terrestre controlada por Israel.

Para ele, o grupo islâmico conseguiu invadir Israel após um longo período de observação do esquema de defesa na fronteira, para assim saber em qual período havia menos guardas.

Em contraponto, Gilberto Rodrigues, professor de Relações Internacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC), apontou que pode ter ocorrido uma falha no sistema de segurança de Israel, que é considerado o mais avançado do mundo. “Isso coloca em dúvida essa conjectura, porque o Hamas conseguiu arquitetar o ataque sem que a inteligência israelense conseguisse identificar”, completou.

Houve rumores de que a aproximação de Israel com a Arábia Saudita pode ter tido influência nessa falha de segurança. Porém, para James Onnig, isso dificilmente teria ocorrido, pois a relação entre esses dois países está apenas no começo, por meio de conversas diplomáticas.

“O que pode ter acontecido é que eles (israelenses) tenham acreditado que essa aproximação com a Arábia Saudita pudesse pacificar as relações com o Hamas. Porém, caso isso tenha ocorrido, Israel não levou em consideração os anos de protestos feitos pela população que vive na Faixa de Gaza. Podemos interpretar, de uma certa forma, que o ataque do Hamas foi como um grito de desespero”, completou.

O professor ainda observou que o grupo islâmico pode ter agilizado a investida contra Israel no intuito de forçar o governo saudita a não concretizar a aproximação, “como se fosse um aviso que a Arábia Saudita não pode se alinhar com um governo é que contra o povo palestino”.

Ataques contra a Palestina

Na década de 1940, houve o crescimento do nacionalismo árabe, que foi marcado por uma visão antiocidental, embasada nas denúncias de que os países ocidentais exploravam o petróleo e outras riquezas do mundo árabe e, assim, causavam a pobreza da população.

“Os nacionalistas árabes conseguiram grandes vitórias no campo político, o que ‘assustou’ os países ocidentais”, explica James Onnig.

Durante a Guerra Fria, grande parte dessas nações estavam alinhadas à URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). “Nesse contexto, temos a aproximação de Israel com o ocidente que, por meio disso, passou a ser um aliado dos EUA e da Inglaterra no Oriente Médio”, completa.

Essa aliança perdura até hoje. Por conta disso, os países ocidentais não aplicaram sanções a Israel quando o país cometeu agressões contra os palestinos. “Houve críticas dos EUA contra algumas atitudes israelenses, mas, por questões geopolíticas, as potências ocidentais fecham os olhos para as violações aos Direitos Humanos cometidas por Israel”, afirma Gilberto Rodrigues.

Inclusive, a Anistia Internacional chegou a acusar o governo israelense de submeter os palestinos a um sistema de apartheid baseado em políticas de segregação, expropriação e exclusão, que equivalem a crimes contra a humanidade.

Levando isso em consideração, a relatora especial da ONU (Organizações das Nações Unidas) para os direitos humanos nos territórios palestinos ocupados, Francesca Albanese, afirmou por meio das redes sociais que não se pode acusar apenas o Hamas como o causador de tudo isso que está acontecendo, é preciso também levar em consideração as atitudes tomadas por Israel.

Posicionamento da FEPAL do Instituto Brasil-Israel

À ISTOÉ, a FEPAL (Federação Árabe Palestina no Brasil) e o Instituto Brasil-Israel se posicionaram sobre o conflito.

Confira abaixo a íntegra das notas:

“O povo palestino vive há 76 ano sob ocupação e sob um sistema de apartheid reconhecido pela ONU, pela Anistia Internacional, pela Human Rights Watch e outras OI’s.

Infelizmente, o povo palestino vive sob intenso sofrimento e possui direito de defenderem sua autodeterminação, segundo discriminado na Carta das Nações Unidas.

Há, entretanto, um ponto que para nós da FEPAL é importante: mostrar o que ocorre como uma reação e não puramente como um ataque.

Tememos nesse momento uma aniquilação. Não sabemos se nossas famílias estarão vivas amanhã. Vivemos com a morte todos os dias nas ruas, mas dessa vez estamos temendo algo muito mais grave”, afirmou a FEPAL.

“Repudiamos o ataque terrorista sem precedentes, orquestrado pelos grupos terroristas Hamas e Jihad Islâmica, ao Estado de Israel e sua população civil, na manhã deste sábado.

Expressamos nossa solidariedade e respeito às vítimas dos atentados, seus familiares e à soberania de Israel.

Conclamamos todas as vozes do diálogo, países e organismos internacionais, a condenarem a ação de terroristas e a morte de civis, na construção de um caminho que evite o prolongamento da tragédia e uma solução definitiva para os desafios na região”, disse o Instituto Brasil-Israel.