03/10/2023 - 13:38
Autor de clássicos contos de fadas, Hans Christian Andersen também escreveu um texto menos conhecido: A Filha do Rei do Pântano, sobre uma menina que não fazia ideia de que é uma flor capaz de salvar seu pai, um rei egípcio, de uma grave doença. Décadas depois, esse texto inspirou a escritora Karen Dionne com sua história homônima, mas situada em um mundo moderno e com situações familiares mais contemporâneas – e que se transformou em filme sob as mãos do cineasta Neil Burger, que estreou na última quinta, 28.
A Filha do Rei do Pântano conta a história de uma mulher (Daisy Ridley, de Star Wars) que é assombrada pela figura de seu pai. O motivo? Ele sequestrou a mãe dessa mulher, que viveu em cativeiro até a filha ter lá seus 12 ou 13 anos. Ele é preso, mas, anos mais tarde, escapa da prisão e se torna uma ameaça à sua família. O que ele quer? Será que tem o desejo de sequestrar a filha novamente? Será que a neta do criminoso está em risco?
Medo pelo ambiente
De tom constantemente tenso, o longa-metragem sabe como criar o ambiente. Apesar da direção exageradamente lenta de Burger, de Divergente e O Ilusionista, o filme deixa qualquer espectador com frio na barriga. É como uma panela de pressão em volta do público, que descobre tudo logo de cara e, depois, é apenas cozinhado até sua conclusão.
Há, sim, um constante clima de familiaridade no que está sendo contado. Apesar da inspiração em Andersen, o longa traz muitos elementos do chamado suspense doméstico – aquela linha de histórias que ganhou força com Garota Exemplar e que a ameaça está dentro de casa. Difícil não fazer paralelos, por exemplo, com Um Lugar Bem Longe Daqui, lançado no ano passado, e que tem o mesmo cenário e uma história familiar trágica.
Parece que falta originalidade em uma história que já se repetiu muito. Pelo menos, porém, há essa tensão crescente (com um final digno para a expectativa criada) e, principalmente, boas atuações. Ridley faz o seu primeiro grande papel após o fim de Star Wars, mostrando que sabe como atuar em silêncio, apenas com olhares e gestos. Reforça, novamente, a injustiça que ronda sua carreira, renegada apesar do bom desempenho na saga Skywalker.
Para arejar o gênero
Mas é Ben Mendelsohn quem rouba a cena: apesar de aparecer menos, consegue dar frio na barriga como uma espécie de psicopata, mas com camadas. Nada daquele homem que é mau por ser mau, que comete crueldades sem pensar duas vezes. Ele é charmoso e tenta conquistar as pessoas ao seu redor. Impacta diretamente na relação do público com o filme.
A Filha do Rei do Pântano, assim, se torna uma boa surpresa do mundo do suspense doméstico que, depois de Garota Exemplar, só decepcionou com A Garota do Trem, A Mulher na Janela e por aí vai. Referencia e reverencia uma obra clássica da literatura, mas também coloca um tom moderno que deixa o espectador preso no que está sendo contado, mesmo com a lentidão exagerada.
Quem sabe, assim, o subgênero ganha uma sobrevida.