Uma equipe de pesquisadores do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) conduz um estudo com o objetivo de desenvolver uma vacina para carrapato-estrela no intuito de inibir a transmissão da febre maculosa. No Brasil, a espécie é a principal portadora da infecção.

Resumo:

  • Pesquisadores desenvolvem vacina para inibir febre maculosa;
  • Seres humanos contraem a doença após serem picados por carrapato;
  • A vacina pode ser capaz de diminuir a densidade populacional do carrapato-estrela.

Em território nacional, a doença é causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida principalmente pelo carrapato-estrela, presente em locais de mata. Recentemente, três mortes foram confirmadas no Estado de São Paulo por conta da febre maculosa.

Os principais sintomas da doença são: febre alta e súbita, dor de cabeça, abdominal e muscular. Vale informar que ela é transmitida apenas pela picada do carrapato.

Por conta disso, os pesquisadores desenvolveram estudos que mostram que, ao infectar o carrapato-estrela, a Rickettsia rickettsii é capaz de inibir no hospedeiro o processo chamado de apoptose (morte programada das células do aracnídeo) favorecendo assim o seu crescimento. Na sequência, a bactéria se prolifera para infectar novas células.

“No nosso estudo, tratamos os carrapatos com uma dupla-fita de RNA específica para a IAP, o que, simplificadamente, leva a degradação do RNA que codifica a proteína, diminuindo drasticamente a sua quantidade na célula. Os carrapatos, ao se alimentar de sangue, morreram, uma vez que a alimentação provavelmente ativa a apoptose, a principal proteína reguladora desse processo, a IAP, estava silenciada (em menores quantidades)”, explica Andréa Cristina Fogaça, professora do Departamento de Parasitologia do ICB-USP e coordenadora da pesquisa, em entrevista à IstoÉ.

“Atualmente nós estamos avaliando se a alimentação de carrapatos sobre animais previamente imunizados com pequenos pedaços (peptídeos) da IAP tem o mesmo efeito que o tratamento dos carrapatos com as duplas-fitas de DNA para a IAP. Se sim, animais que são usualmente hospedeiros para os carrapatos, como os cavalos e os bovinos (que vem sendo cada vez mais infestados pelo carrapato-estrela), poderão ser imunizados. Isso levará a uma diminuição da densidade populacional do carrapato-estrela e, consequentemente, à diminuição da transmissão da bactéria que causa a febre maculosa. Os humanos são hospedeiros acidentais tanto do carrapato quanto da bactéria. Ou seja, nem os carrapatos nem a bactéria precisam do homem para manter seu ciclo na natureza. Então não se justifica imunizar seres humanos”, acrescenta.

A imunização dos carrapatos encontra-se em fase inicial, mas os pesquisadores estão otimistas em conseguir bons resultados para o controle populacional.

Enquanto isso não acontece efetivamente, Andréa alerta para as pessoas ficarem atentas. “Caso sejam picadas por carrapatos ou apenas tenham estado em áreas com presença do carrapato (muitas vezes não percebemos que fomos picados, pois algumas fases do ciclo do carrapato – as larvas – são muito pequenas) e após cerca de 3-10 dias tenham febre alta repentina, dores de cabeça e no corpo, dores abdominais, procurem imediatamente o médico e alertem o profissional. A infecção é tratável com o antibiótico doxiciclina, mas o tratamento só é efetivo quando iniciado imediatamente após o surgimento dos sintomas (o tratamento prévio, ou seja, antes de surgirem os sintomas, é contra-indicado)”, conclui.