Em Portugal, presidente condena violação do território, diz que não vai visitar Ucrânia e nega ter igualado Kiev e Moscou sobre responsabilidade pelo conflito. Mas afirma que "quem não fala em paz contribui para guerra".O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou neste sábado (22/04), em Lisboa, sua primeira visita oficial à Europa neste terceiro mandato. Após um encontro com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, o brasileiro fez declarações sobre a guerra na Ucrânia, em que condenou a violação ao território ucraniano e negou ter igualado Kiev e Moscou sobre a responsabilidade pelo conflito.
Lula também disse que só visitará a Rússia ou a Ucrânia quando houver sinais de que os países estão dispostos a alcançar uma solução negociada para o fim da guerra.
"Eu não fui à Rússia nem à Ucrânia, só vou quando tiver um clima de construção de paz. Nunca igualei os dois países", disse o presidente. "Todos nós achamos que a Rússia errou. E já condenamos em todas as decisões da ONU. Mas a guerra já começou e é preciso parar a guerra. E para parar a guerra tem que ter alguém que converse, e o Brasil está disposto."
Lula continuou afirmando que seu "governo condena a violação à integridade territorial da Ucrânia", mas defende "uma solução política e negociada para o conflito". "Precisamos criar um grupo de países que se sentem à mesa tanto com a Ucrânia como com a Rússia para encontrar a paz."
A fala sobre uma solução política negociada ecoa declarações recentes de Lula sobre a guerra, mas anteriormente o presidente gerou controvérsias ao dizer que tanto Moscou como Kiev são responsáveis pelo conflito, uma vez que "quando um não quer, dois não brigam".
Atrito com UE e EUA
Recentemente o presidente também gerou atrito com os Estados Unidos e a União Europeia (UE) ao afirmar que essas potências contribuem para prolongar o conflito em solo ucraniano. Bruxelas e a Casa Branca chegaram a emitir reações de indignação à fala do brasileiro.
Questionado neste sábado sobre se ainda mantém esse posicionamento, Lula respondeu: "Se você não fala em paz, você contribui para a guerra."
Ele lembrou então de quando o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, o visitou em Brasília e pediu que o Brasil vendesse armamentos de guerra a Berlim para que fossem doados à Ucrânia. A solicitação foi negada por Lula.
"O Brasil se recusou a vender os mísseis, porque se a gente vendesse os mísseis e esses mísseis fossem doados à Ucrânia e esses mísseis fossem utilizados e morresse um russo, a culpa seria do Brasil. O Brasil estaria na guerra. E o Brasil não quer participar da guerra. O Brasil quer construir a paz", afirmou o presidente.
Portugal apoia Ucrânia
Na mesma coletiva de imprensa, o presidente português também comentou a guerra, afirmando que Portugal condena a invasão russa e expressando solidariedade ao povo ucraniano. Rebelo de Sousa ainda reafirmou o compromisso de Portugal com as políticas da Otan e da UE em relação à guerra.
"Portugal é aliado da UE, da Otan, definiu apoio à Ucrânia. A posição do Brasil é a que o presidente Lula defendeu", afirmou o líder português. "Portugal pensa que não é uma situação justa não permitir que a Ucrânia possa se defender e recuperar território que foi perdido devido à violação territorial."
Esta é a primeira viagem oficial de Lula à Europa neste terceiro mandato. Durante a manhã, ele foi recebido por Rebelo de Sousa com honras militares na Praça do Império, em Lisboa, e depois fez uma visita ao túmulo de Luís de Camões. Os dois presidentes seguiram então para um encontro em Belém, antes da coletiva de imprensa conjunta.
Neutralidade brasileira à prova
Por mais que Lula tenha negado que visitará pessoalmente a Ucrânia, ele decidiu enviar o assessor especial do Palácio do Planalto para assuntos internacionais, Celso Amorim, para se reunir com autoridades em Kiev e discutir a invasão da Rússia.
O presidente afirma que o Brasil tem posição neutra no conflito, mas suas falas que corresponsabilizaram a Ucrânia pela invasão de seu território e acusaram a UE e os EUA de prolongarem a guerra levantaram dúvidas em países do Ocidente e na comunidade ucraniana sobre a neutralidade de Brasília.
Contribuiu para essa percepção o contato frequente do governo brasileiro com o governo russo, sem que houvesse até o momento visitas oficiais de membros do alto escalão da gestão Lula a Kiev.
Amorim reuniu-se com o presidente russo, Vladimir Putin, e seu chanceler, Serguei Lavrov, em Moscou, no final de março. Lavrov foi também recebido em Brasília na última segunda-feira pelo chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e por Lula.
Amorim foi ministro das Relações Exteriores de 2003 a 2011, nos dois primeiros governos Lula. Após sua viagem a Moscou, ele visitou Paris, onde conversou com representantes do governo francês sobre o tema.
ek (ots)