Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) – A Eneva está buscando um sócio para desenvolver sua plataforma de energia renovável e pretende conquistar novos contratos para seus projetos termelétricos em um leilão de potência previsto pelo governo para novembro deste ano, disse à Reuters o CFO da companhia, Marcelo Habibe.
As apostas fazem parte do plano estratégico da Eneva de diversificar suas fontes de receita, disse Habibe, acrescentando que a empresa “não vai parar por aí” e continuará olhando para crescimento, como a aquisição do Polo Bahia Terra, cuja negociação foi congelada pela Petrobras por 90 dias.
No caso da geração de energia renovável, a Eneva está terminando de erguer o parque solar Futura I, na Bahia, com 670 megawatts (MW) de potência, e procura um sócio para desenvolver outras fases do complexo, que poderia ter sua capacidade instalada até quadruplicada.
“Esse sócio entraria aportando capital, ajudando a desenvolver esses projetos. A gente entra com nossa inteligência de engenharia, de negociação, de implantação de projetos e regulatório”, explica Habibe.
Segundo ele, a decisão de trazer um parceiro ocorre em um momento de retornos “muito apertados” para empreendimentos de geração renovável, diante do cenário de oferta abundante de projetos e custos mais elevados. “Um sócio que… tem apetite para retornos mais baixos, que possam ser adequados para ele.”
Outro foco da Eneva neste ano será o leilão organizado pelo governo para contratação de reserva de potência elétrica, previsto para ocorrer em novembro. A ideia da companhia é participar do certame com usinas que têm contratos perto do vencimento –Parnaíba I, Parnaíba III e Termofortaleza– e também com projetos de novas termelétricas.
Para o CFO da companhia, a demanda deste leilão deve superar a oferta de projetos, de maneira que haverá espaço para que a companhia possa conquistar novos contratos e viabilizar a expansão de seus complexos termelétricos, principalmente da Celse (SE), adquirida no ano passado por 6,1 bilhões de reais.
O Ministério de Minas e Energia ainda não lançou diretrizes para o leilão de novembro, mas se forem mantidas as regras do certame passado, as térmicas contratadas receberiam uma receita fixa pela disponibilidade dos ativos e também uma variável, de acordo com a geração realizada.
Avanços nessas duas frentes de negócio permitirão que a Eneva seja uma empresa com receita cada vez mais diversificada e previsível e menos dependente do despacho termelétrico, que varia conforme as condições hidrológicas e maior ou menor uso da geração hidrelétrica.
A empresa já conquistou importantes marcos no ano passado em termos de diversificação de seu portfólio, com aquisições para entrar em renováveis e instalar um hub de gás em Sergipe, além de iniciar vendas de gás diretamente a clientes como Vale e Suzano.
“Quando olhamos para frente, com projetos adquiridos e projetos vencidos nos leilões, em 2027 quando tudo estiver de pé, a companhia passa a ter receita fixa de mais de 10 bilhões de reais e um Ebitda fixo de 6 bilhões”, afirma Habibe, lembrando que em 2021 os indicadores somaram 2,3 bilhões de reais e 1 bilhão de reais, respectivamente.
A companhia prevê investir 3,6 bilhões de reais em 2023 e cerca de 11 bilhões de reais até 2030, considerando os projetos já contratados e em execução.
NEGOCIAÇÃO COM PETROBRAS
A Eneva aguarda uma decisão sobre o programa de desinvestimentos da Petrobras, que foi suspenso por 90 dias a pedido do Ministério de Minas e Energia por conta de uma reavaliação da Política Energética Nacional.
“É um período agora de sentar e esperar, se a Petrobras decidir por retomar, em 90 dias a gente volta a conversar sobre o Polo Bahia Terra”, disse Habibe.
A empresa negocia a compra de Bahia Terra em consórcio com a PetroRecôncavo. As empresas ofertaram mais de 1,4 bilhão de dólares pela aquisição de 100% das participações da Petrobras no polo baiano, que compreende um conjunto de concessões de campos terrestres de exploração e produção (E&P) e instalações associadas localizadas nas Bacias do Recôncavo e de Tucano.
O CFO da Eneva afirmou que faz “todo o sentido” a Petrobras desinvestir desse e de outros ativos, uma vez que a estatal deveria concentrar esforços e capital em sua expertise com água profundas e ultraprofundas.
Ele lembrou ainda que o polo Bahia Terra foi recentemente interditado pela agência reguladora ANP por questões de segurança, um indicativo, segundo ele, de falta de investimentos pela Petrobras.
“É um ganha-ganha que faz sentido para todo mundo… Agora, a Petrobras tem que entender dessa forma também.”
(Por Letícia Fucuchima)