Política poderá favorecer setores na reforma tributária, mas sem alterar carga total, diz Appy

Política poderá favorecer setores na reforma tributária, mas sem alterar carga total, diz Appy

Por Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) – O secretário extraordinário da reforma tributária, Bernard Appy, afirmou nesta quarta-feira que, do ponto de vista econômico, o ideal é que a reforma estabeleça o menor número de exceções às regras gerais de taxação, mas que caberá à política definir setores que poderão eventualmente ter tratamento diferenciado, contanto que a carga geral seja mantida.

O secretário ponderou que tanto a Proposta de Emenda à Constituição 45, que tramita na Câmara, quanto a PEC 110, que tramita no Senado e tem espinha dorsal semelhante à da Câmara, partem do princípio da manutenção da atual carga tributária e qualquer exceção terá de ser compensada.

“Quanto mais exceção tiver, quanto mais tratamentos favorecidos, maior tem que ser a alíquota para os outros setores para você manter a carga”, disse o secretário em audiência pública no grupo de trabalho da Câmara dos Deputados que discute a reforma.

“Eu acho que é uma decisão política do Congresso de saber a quem justifica se ter um tratamento favorecido aqui ou não, desde que se mantenha a carga tributária constante”, acrescentou, reconhecendo que durante a negociação por votos pode surgir “a necessidade de alguma válvula de escape”.

Segundo Appy, cabe ao Ministério da Fazenda prestar o apoio técnico necessário para que seja alcançado um acordo no Parlamento em torno da proposta.

“Eu acho que é a política que vai fazer a gente chegar a um bom termo na reforma tributária”, disse.

As duas PECs abordadas pelo GT preveem o fim do IPI, assim como de outros impostos da União, Estados e municípios, com sua substituição por um único imposto sobre valor agregado cobrado sobre o consumo de bens e serviços ou, no caso da proposta do Senado, uma tributação dual: um imposto para a União e outro para os demais entes da Federação.

Appy argumentou que a reforma tem o potencial de reduzir as desigualdades regionais e a guerra fiscal entre os entes da Federação, que passariam de “competitivos” a “cooperativos”.

O secretário apresentou estudo apontando que a reforma tributária geraria, em uma estimativa conservadora, num incremento de 12% no PIB em um prazo de 15 anos, e um aumento de 11% nas exportações, além de 20% de crescimento do investimento.

Também presente na audiência, o relator da proposta na Casa, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), considerou haver “um ambiente para se aprovar a reforma”. Sobre as disputas entre Estados e municípios motivadas por questões fiscais, Aguinaldo avaliou que a força para “guerrear” dos entes federativos já se “exauriu”.

O relator citou pesquisa divulgada na noite de terça-feira pela Arko Advice, segundo a qual “67,96% dos deputados acreditam na aprovação de uma reforma tributária ampla pelo Congresso neste ano”.

A pesquisa foi realizada de forma presencial na Câmara dos Deputados e entrevistou 103 parlamentares de 19 partidos respeitando o critério da proporcionalidade entre os dias 27 de fevereiro e 3 de março.

“CASHBACK DO POVO”

Um outro ponto abordado pelas duas PECs trata da devolução do imposto recolhido a famílias de baixa renda, o chamado “cashback do povo”. Os termos e detalhes desse ressarcimento seriam definidos por meio de uma lei complementar, disse Appy, mas a ideia principal já deve ser incluída no texto a ser produzido pelo Congresso para a reforma tributária.

Poderiam ser utilizados, segundo o secretário, modelos como os já adotados em alguns Estados que vinculam a concessão do CPF do consumidor à devolução do imposto, a exemplo da Nota Paulista, em São Paulo. Outra forma seria o aproveitamento do Cadastro Único e dos cartões para o recebimento de benefícios sociais para a definição do público alvo.

Mas a solução, seja qual for, reforçou Appy, será decidida pelo Congresso.

“Isso tem que ser definido politicamente pelo Parlamento para quem você vai devolver esse imposto”, afirmou.

“Quem vai calibrar o cashback são vocês”, disse o secretário, dirigindo-se aos deputados.

Appy defendeu a implantação da devolução por considerá-la um sistema mais “eficiente” de política distributiva do que a desoneração de itens da cesta básica, além de proporcionar uma regressividade na tributação do consumo e permitir maior formalização da economia — caso seja adotada a opção de vincular o cashback ao CPF.

Appy argumentou ainda que o detalhamento do cashback, assim como eventuais exceções tributárias concedidas a determinados setores da economia serão fatores importantes para a definição da alíquota do novo imposto.

Na mesma linha do secretário, Aguinaldo afirmou que os parlamentares decidirão o modelo e a abrangência da devolução do imposto.

tagreuters.com2023binary_LYNXMPEJ270U0-VIEWIMAGE