Ícone da soul music, Hyldon lança disco recheado de baladas autorais

As coisas mais simples da vida estão nos pequenos gestos do dia a dia: os amigos, a família e o amor genuíno entre duas pessoas que se amam. Se o mundo anda mesmo de ponta-cabeça e o ódio pelas diferenças parece cada vez mais onipresente, como bem externou 2016, Hyldon caminha na direção contrária e mostra que, sim, é possível disseminar sentimentos bons numa sociedade, segundo ele, “emocionalmente instável e doentia”. “Dinheiro, sucesso e status: tudo isso acaba, cara. Família e amizade, não”, afirma o cantor e compositor em um bate-papo leve e descontraído numa abafada manhã no Centro Cultural São Paulo.

Aos 65 anos, o baiano radicado no Rio de Janeiro acaba de lançar o disco As Coisas Simples da Vida. O novo trabalho do soulman traz 10 canções inéditas, todas compostas e produzidas por ele. As faixas transbordam de boas vibrações e mostram uma delicadeza sublime para falar de amor, amizade e companheirismo, sem que tudo isso pareça piegas ou minimamente cafona. “Eu tive mais tempo para me dedicar a essas músicas. Consequentemente, pude escrever sem compromisso e brincar com os arranjos. Isso reflete no resultado final. Minha voz está muito melhor neste álbum”, afirma Hyldon.

Engana-se, porém, quem pensa que As Coisas Simples da Vida tenha apenas baladas. Composições como Sábado Passado e Um Trem para Bangu mostram ginga e um groove de pegada única. Apesar da forte influência da soul music setentista, o projeto começou a ser pensado como algo exclusivamente romântico. A paixão de Hyldon pelo groove, entretanto, falou mais alto durante a produção do disco. O autor de Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda, portanto, retoma influências de suas origens, incluindo aí trabalhos que executou ao lado de Cassiano, Tim Maia e Sandra de Sá no chamado movimento Black Rio. “Faço um resgate ao meu jeito de compor e tocar. É legal mostrar às pessoas que não sou só aquele cara de Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda. Tem um outro lado mais versátil e amplo da minha carreira. Quem é mais jovem não conhece quase nada disso”, ressalta ele.

Em 2015, Hyldon relançou seu disco clássico Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda (1975) para celebrar os 40 anos de seu trabalho autoral de maior sucesso. O hit homônimo de Hyldon, ao lado de As Dores do Mundo, também presente no álbum, embalou os famosos bailinhos e o colocou no topo das paradas. Ao lado de Tim e Cassiano, formou a chamada santíssima trindade do soul. “Desde aquela época, a música é a maneira mais fácil que encontrei para expressar meus sentimentos verdadeiros. Música é sentimento.”

Fast music

Se em seu último disco, Romances Urbanos (2013), Hyldon já dava provas de uma maturidade vocal arrebatadora, As Coisas Simples da Vida consolida tal evolução de maneira bastante ampla. Além disso, as 10 faixas do novo trabalho autoral são bem construídas e com solos elaborados. “A maioria das composições de hoje não tem sequer introdução. Antigamente, a música podia durar quatro minutos que tocava em rádio tranquilamente. Hoje em dia, quando muito, chega a dois. É tudo muito rápido. A pessoa ouve, não dá muita atenção e pula de faixa. Elas ouvem música no carro, no pen drive ou no celular. Vivemos o chamado fast music: tudo é muito rápido e descartável”, conclui Hyldon.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.