09/01/2023 - 12:31
Quatro frases pinçadas das redes sociais no domingo de caos em Brasília.
“Tem que meter bala!”
Frases iguais a essa ou muito parecidas pipocaram na internet ontem. Frases curtas e direto ao ponto, de gente defendendo que os terroristas que atentaram contra os Três Poderes só entendem “a língua da bala”, ou algo assim.
A civilidade exige a total desqualificação de tal ideia, claro. Mas, indo além do absurdo da proposta, esses “argumentos” deixam transparecer uma reação muito comum nas pessoas.
Combater radicalismo com radicalismo ganha um injustificável caráter de “justificativa”. Em termos bíblicos, é a troca do “oferecer a outra face” pelo “olho por olho, dente por dente”.
“Não, bala de verdade!”
Assim respondeu um internauta a outro que defendia na o uso de bala de borracha contra os invasores terroristas em Brasília. Um exercício de imaginação muito simples poderia vislumbrar uma atrocidade sem limites caso um primeiro tiro de projétil mortal tivesse sido disparado nos confrontos na Praça dos Três Poderes.
Como saber quantas armas estavam em poder dos bolsonaristas radicais? Aliás, “bolsonaristas radicais” é um pleonasmo, não? Enfim, o ex-presidente passou quatro anos armando seus seguidores e alguém acha que não foi pensando na efetiva utilização desse arsenal?
Com o assustador adendo do sumiço de muitas armas guardadas nos gabinetes de segurança dos prédios invadidos. O bangue-bangue jamais será solução. É um tiro mais certeiro chegar aos patrocinadores da horda que aterrorizou Brasília.
“E se fosse tudo preto e pobre?”
A frase aponta para a ideia de que a repressão seria mais forte, e talvez até letal, se o grupo invasor não fosse predominantemente de gente branca de classe média, esta a percepção difundida nos comentários nas redes, verdadeira ou não. Aí aparece o racismo estrutural brasileiro inserido num cenário de barbárie. Como está no dito popular, é juntar a fome com a vontade de comer.
Uma violência real acumulada por décadas encontrando espaço diante de uma violência recém-embalada por quatro anos de estupidez. Em menor escala, comentários também comparavam a conivência das forças de segurança frente aos terroristas com a reação historicamente mais agressiva das autoridades diante de greves de professores ou manifestação de estudantes.
Sem entrar no mérito, quando deixamos de focar na violência em si para discutir a intensidade dessa violência, é sinal que a força bruta está normalizada.
“Sem anistia!”
Uma mensagem direta: a paciência acabou.