A expressão provém da sociologia alemã: lumpen. Pode ser traduzida por andrajo, por trapo, por farrapo, pelos que vivem, enfim, à margem das regras e normas estabelecidas. Pois bem, é menos que isso o que sobrou do bolsonarismo. Sobrou o banditismo.

A prova viva são os selvagens que praticaram atos de barbárie e vandalismo em Brasília, apedrejando e colocando fogo em carros e ônibus, ameaçando invadir a sede da Polícia Federal. Uma resposta feita de incivilidade à prisão de um agitador antidemocrático. Ele, o agitador bolsonarista, prega a ruptura com o Estado Democrático de Direito. Os baderneiros também agiram em represália à diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, respectivamente presidente e vice-presidente eleitos do País.

No Brasil, sociologicamente, posicionamentos de civis que sejam de centro, de centro-direita ou de direita às vezes se aproximam, em outras ocasiões se distanciam, mas não embutem a defesa da selvageria. Há momentos da história em que se confundem e se atrapalham na busca de uma ideologia conservadora no campo do comportamento e francamente liberal na área econômica.

Já a extrema-direita, também a civil, jamais se manteve em pé na sociedade brasileira (em 1964 tiveram os militares como muletas até que esses virassem sanguinários protagonistas), porque sempre lhe faltou uma liderança – ausência que festejamos e comemoramos, nós que defendemos de modo inegociável e inarredável a democracia e o Devido Processo Legal como base do Estado de Direito. A extrema-direita composta por civis, que no Brasil é bastante inculta e insipiente (repita-se, nada a ver com a posição de centro-direta nem com o conservadorismo), exibiu o seu rosto no governo de Getúlio Vargas, sob o nome de Integralismo. O líder, Plínio Salgado, era um néscio. Defendiam as teses fascistas de Mussolini e nazistas de Hitler. Nas ruas, saiam em passeatas, mas corriam para casa quando avistavam meia dúzia de membros do PCB com porretes nas mãos.

Na ânsia de estabelecer uma contraposição a Lula e ao petismo, a extrema-direita civil escolheu o militar da reserva Jair Bolsonaro como seu líder. Tomados pelo mesmo antipetismo, mas sem afinidade ideológica, também o centro e o centro-direita deram aval a falsa liderança de Bolsonaro. Mas agora, nesse momento em que o governo Bolsonaro vira pó, há gente a perguntar: o que sobrou do chamado bolsonarismo? O vandalismo em Brasília respondeu!
O bolsonarismo, de tão nada que é, não chega nem palidamente a se constituir como uma linha metodológica de interpretação da realidade – é só loucura, é só incompetência, é só disfuncionalidade. Os conservadores civis já desembarcaram dele, os adeptos civis do centro-direita também, e a direita civil idem – todas essas linhas de pensamento querem hoje distância de Bolsonaro. Em sendo assim, do bolsonarismo restou essa turma asselvajada e insana que compõe a extrema-direita, seja ela militar ou civil. Ninguém deve tentar interpretar o bolsonarismo para além do que ele é. Do bolsonarismo sobrou aquilo que ele sempre foi: banditismo!