Então Lula viajou para a COP27 no jatinho de um empresário. Pisou na bola. Errou feio. Agora, não parece uma derrapada tão grave assim. Afinal, o antecessor é acusado de coisas piores. O presidente eleito não vai carregar pecha de genocida por ter aceitado uma carona, no mínimo, embaraçosa, certo

Este é o raciocínio e até o discurso externado de apoiadores de Lula, e a mensagem articulada aqui foi construída com lógica e ponderação. Bem, lógica e ponderação que pouco servirão para impedir um ataque pesado da oposição. Mais do que depressa, Lula terá de aprender que a ele não bastará rebater críticas. Seu melhor caminho pelos próximos quatro anos é não baixar suas defesas, o tempo todo. É não errar, não dar chances.

Lula terá de ser mais correto do que Bolsonaro. Nenhum dos dois é um poço de virtudes, mas depois de tudo o que o atual mandatário fez e desfez sem consideração com a liturgia do cargo que ainda ocupa por mais 40 dias, a retidão ética e moral do governo de Lula precisa ser impecável. O petista não pode cair no erro de atuar sob a aura de que “não sou tão ruim quanto meu antecessor”. Tentar sustentar erros baseados na gravidade de cada derrapada é pouco para garantir a reconstrução que o País pede. Pegar carona com um empresário que depois poderá cobrar uma ajuda indevida é algo “menor” do que atrasar compra de vacinas, numa atuação que pode ter custado a vida de pessoas? Essa discussão é longa, complicada. E, para Lula, não ajuda em nada.

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Cada novo mandato, depois de troca no poder, tem a chance de iniciar uma nova era, por mais ingênuo que esse pensamento possa ser. É um momento Poliana, de acreditar que tudo pode começar a ser diferente. Certamente não será dessa maneira, mas a esperança não custa nada e melhora o estado de espírito. Seria bom se Lula, ou quem vier depois dele e ainda depois, qualquer um que seja, pudesse fazer com que declarações de honestidade não saíssem da boca dos políticos como se fossem declarações de qualidades extraordinárias. As Polianas por aí ainda querem ver honestidade ser mera obrigação de quem lida com o patrimônio público, não uma virtude que possa impressionar alguém.