O ex-deputado Roberto Jefferson cumpriu todos os itens da cartilha bolsonarista. Atacou o Supremo Tribunal Federal, disse que o ministro Alexandre de Moraes precisava ser afastado, afirmou que decisões do Tribunal não seriam mais cumpridas, insultou os ministros aos berros e armou-se até os dentes para enfrentar as autoridades.

Tudo isso fazia parte do roteiro do golpe tupiniquim, uma versão local da “invasão do Capitólio”. No caso americano, a sublevação ocorreu em 6 de janeiro do ano passado quando os apoiadores insuflados por Donald Trump invadiram armados o Congresso, em Washington, para impedir a oficialização dos resultados em favor de Joe Biden. Dez morreram.

Aqui, a estratégia era armar a população e criar milícias de apoio ao capitão. Com o relaxamento das leis, um milhão de armas foram distribuídos a pretensos grupos de “colecionadores e caçadores”. O número de “CACs” inscritos aumentou em mais de meio milhão. Esse contingente, maior do que o total de policiais militares em todo o território nacional, tem um arsenal invejável distribuído pelo País. Trata-se de um exército fiel a Bolsonaro.

Jefferson é um dos CACs. Apesar de cumprir prisão domiciliar, o político estava com dois fuzis de mira a laser e guardava farta munição. Não tinha direito a isso. Ele acumulava granadas, que são proibidas para civis. Fez tudo isso à revelia da Justiça e com a falta de fiscalização do Exército.

O plano era usar esse corpo paramilitar para dobrar a Justiça, intimidar os adversários e garantir a perpetuação no poder do presidente. Inclusive contestando o resultado das eleições, daí o argumento de que as urnas eletrônicas são adulteradas, um discurso espalhado desde 2019.

Bolsonaro não contava com a firmeza do TSE, com a reação da sociedade civil e com as trapalhadas dos aliados. Jefferson queimou a largada do golpe ao se sublevar solitariamente a uma semana do pleito, que parecia até se inclinar ao capitão na reta final. O ex-presidente do PTB, partido em dissolução, achou que teria o apoio do presidente e receberia tratamento igual a Daniel Silveira, o ex-deputado que foi afastado, perdeu os direitos políticos e ganhou um indulto presidencial como prêmio por insultar os ministros da Corte.

Quando Jefferson atacou a Polícia Federal, estampou o próprio bolsonarismo como um movimento armado que ataca o Estado e as forças de segurança. Mas não eram os apoiadores do presidente que usavam o verde e o amarelo e defendiam a lei e a ordem? Pois é.

Esse tiro no pé de um aliado de primeiro hora caiu como uma bomba no QG de campanha do presidente. O esforço na reta final tinha sido de expor a corrupção das gestões petistas e cravar em Lula a imagem de ex-presidiário e fora da lei. Jefferson fez Bolsonaro vestir involuntariamente essa carapuça. Assim, fica difícil dar golpe.