Neymar fez live ao lado de Bolsonaro, com direito a uma promessa: quando marcar o primeiro gol na Copa do Mundo do Catar, o que o jogador acredita que irá acontecer logo na estreia contra a Sérvia, vai comemorar com os braços erguidos, usando o dedo médio e o indicador de cada mão para fazer o “22”. Na cabeça deles, uma comemoração dupla. Um gol nos sérvios e uma goleada na democracia, com a reeleição do presidente.

O apoio de Neymar ao bolsonarismo não é de hoje, foi construído durante visitas sistemáticas do pai (e empresário) do jogador ao Planalto, pedindo ajuda para resolver junto à Receita Federal alguns pepinos, de valores nada modestos. Pelos sorrisos diante dos fotógrafos, as negociações sigilosas parecem ter sido satisfatórias. Mas a nova manifestação de apoio na live tem uma peculiaridade: acontece quando notícias dão conta que a CBF estaria pensando em articular uma movimentação, depois da Copa, para tentar separar a camisa da seleção dos movimentos de direita no País.

A tarefa será bem mais trabalhosa do que ganhar o Hexa. A opção pela camisa da seleção como uniforme de manifestações começou ainda na campanha de Aécio Neves à Presidência, contra o vermelho do PT. Voltou a ser convocada no processo de impeachment de Dilma Rousseff. E passou à condição de titular absoluta com Bolsonaro em 2018. Depois de quase uma década de devoção à direita, essa dissociação não será nada fácil.

O aspecto mais eficiente dessa bem-sucedida apropriação indébita da amarelinha é que quase todo mundo tem uma em casa, em diferentes estágios de desbotamento, dependendo de qual Copa motivou a compra. Se a CBF tem dificuldade de implantar outras ações bem mais simples que seriam benéficas ao futebol, por que acreditar que conseguirá cumprir essa tarefa? E qualquer esforço nessa direção teria de passar por Neymar, hoje um símbolo mais icônico da seleção do que o próprio uniforme.

Para Neymar, a Copa é um desafio pessoal muito maior do que fazer gols seguidos de afagos ao presidente. Aos 30 anos, provavelmente terá sua última oportunidade de ganhar uma Copa e inserir seu nome entre os grandes do futebol, os realmente grandes, e provar que não é um jogador sem bons desempenhos nos jogos mais difíceis.

Na semana passada, enquanto a nata do futebol mundial se reunia na cerimônia de entrega da Bola de Ouro de melhor jogador da temporada, prêmio concedido ao francês Karim Benzema, do Real Madrid, Neymar estava ausente na festa. No mesmo dia, prestava mais um depoimento à Justiça sobre as irregularidades financeiras investigadas em sua transferência do Santos para o Barcelona, um imbróglio interminável nos tribunais da Espanha. Mais uma vez, ele fez o papel do menino Neymar, dizendo que assina os documentos que o pai passa para ele. Provavelmente, o pai mandou o garoto apoiar o presidente.