Nunca uma eleição brasileira despertou tanta atenção no exterior. No passado, o País já havia chamado a atenção da imprensa internacional por diferentes razões. No início dos anos 2000, a chegada de Lula ao poder tinha sinalizado a guinada da América Latina a governos esquerdistas. O impeachment de Dilma, em 2016, também atraiu jornalistas para documentar o acidentado percurso político nacional, inclusive com o naufrágio da mesma esquerda que havia sucumbido a escândalos de corrupção em série. Mas nada supera o momento atual.

Agora, o interesse é saber se o maior aliado de Donald Trump vai conseguir se manter como farol para os movimentos de extrema direita. O triunfo da futura premiê italiana Giorgia Meloni no último fim de semana, uma antiga admiradora de Mussolini com uma agenda antieuropeia e de ódio aos imigrantes, reacendeu o temor de que o neofascismo continuará a prosperar. A resiliência nos EUA de Trump, que continua a ter controle férreo sobre o Partido Republicano, levanta o receio de que o extremismo ainda se fortalece.

O temor é que ocorra um novo 6 de janeiro. Ou seja, um golpe de Estado promovido por Bolsonaro na linha do que Trump tentou nos EUA sem sucesso. O brasileiro ameaça promover uma quartelada desde o início da gestão. Tentou instrumentalizar os militares para seu golpe criando crises na caserna que não eram vistas desde a redemocratização. Mas não teve sucesso, por enquanto. Aparentemente, ele só atraiu uma penca de generais com interesses pecuniários. E também se defrontou com instituições fortes e vigilantes, especialmente o Judiciário.

Mas o temor mundial permanece, especialmente quando as democracias continuam sob ataque. A invasão da Ucrânia por um autocrata elogiado por Bolsonaro também adiciona um elemento de insegurança, ainda mais que o próprio Lula ajudou a fomentar a desconfiança sobre suas intenções ao elogiar a ditadura na Nicarágua e acusar o próprio premiê da Ucrânia, que lidera uma resistência heroica, de ser o causador do conflito sangrento promovido por Vladimir Putin.

A vitória de Lula já está precificada na imprensa internacional, no entanto. A inglesa “Economist”, é claro, desconfia da política econômica no seu provável governo, que permanece um segredo até para os eleitores. A publicação nota que Lula disse que o PT “já se cansou” de pedir desculpas pelos escândalos de corrupção, quando na verdade isso nunca aconteceu. A “Time”, numa reportagem recente, aponta a força da desinformação nas redes sociais e diz que o Facebook e o Instagram, da Meta, de Mark Zuckerberg, não fez o suficiente para evitar as fake news que ajudaram a colocar Bolsonaro no poder.

Todas as principais publicações do exterior têm destacado o risco de golpe, e não é apenas a imprensa que está de olho. Haverá cem observadores internacionais para acompanhar o pleito no País, um número recorde. Isso é uma má notícia para o presidente. Isolado internacionalmente, perdendo aliados e com chances reais de perder a votação logo no primeiro turno, Bolsonaro não contará com a simpatia internacional para o seu putsch. A Justiça Eleitoral é reconhecida internacionalmente e poucos países, se é que haverá algum, poderão se levantar em sua defesa no caso de tentar contestar o veredito das urnas.

Os EUA, por exemplo, já sinalizaram que vão acatar os resultados assim que forem divulgados. Assim como Bolsonaro não se preocupou em atrair a maioria da população para referendar seu governo enquanto ocupou o Planalto, também não obteve nenhum sucesso em legitimar suas teses golpistas no exterior. O vexame do bolsonarismo não será só doméstico, mas global.