Autoridades russas aliadas de Putin acusam “erros” após idosos e estudantes serem incluídos na campanha de recrutamento para a guerra na Ucrânia. Presos em protestos já somam mais de 2 mil.As autoridades russas aliadas do presidente russo, Vladimir Putin, pediram neste domingo (25/09) a correção de “erros” depois que idosos, doentes e estudantes foram incluídos na campanha de recrutamento lançada em todo o país.
Quando Putin, anunciou a chamada “mobilização parcial” de reservistas para a Ucrânia na quarta-feira, ele disse que apenas pessoas com conhecimento ou experiência militar “relevantes” seriam convocadas. Mas muitos expressaram indignação ao ver casos, às vezes absurdos, de convocação de pessoas inaptas para servir nas forças armadas.
Na região de Volgogrado, no sudoeste do país, um centro de treinamento enviou de volta para casa um militar aposentado de 63 anos com diabetes e problemas cerebrais. Na mesma região, o diretor de uma pequena escola rural, Alexander Faltin, 58 anos, recebeu uma ordem de convocação apesar de não ter experiência militar. Sua filha postou um vídeo nas redes sociais que viralizou. Ele foi autorizado a voltar para casa depois que seus documentos foram revisados, de acordo com a agência de notícias Ria Novosti.
Críticas
A presidente da câmara alta do Parlamento, Valentina Matviyenko, chamou neste domingo a atenção dos governadores, que supervisionam as campanhas de mobilização. “Os erros de mobilização estão provocando reações ferozes na sociedade, e com razão”, reconheceu Matviyenko, em mensagem no Telegram. “Certifiquem-se de que a mobilização parcial seja feita respeitando plenamente os critérios. E sem um único erro”, ordenou.
Esses erros são novos exemplos dos problemas logísticos ocorridos desde o início da ofensiva da Rússia contra a Ucrânia em fevereiro.
No sábado, a Rússia anunciou a substituição do vice-ministro da Defesa, o principal general encarregado da logística, em plena campanha de mobilização.
Embora as autoridades apresentem a mobilização de pessoas teoricamente isentas como casos isolados, suas declarações expressam uma forma de preocupação com a reação indignada de uma parte da população.
Valeriy Fadeev, presidente do conselho de direitos humanos do Kremlin, pediu ao ministro da Defesa, Sergei Shoigu, que “resolva urgentemente os problemas” para evitar “minar a confiança do povo”. Ele citou várias aberrações, como o recrutamento de 70 pais de famílias numerosas no extremo leste do país e de enfermeiras e parteiras sem formação militar.
Fadeev disse que todos eles foram convocados “sob a ameaça de julgamento criminal”. Ele também criticou aqueles que “distribuem convocações às 2 da manhã, como se estivessem já considerando todos como desertores”, alertando que tais métodos estão criando “descontentamento”.
Convocação de estudantes e manifestantes
Vários estudantes disseram à agência de notícias AFP que receberam ordens de convocação, apesar de as autoridades terem prometido que eles não seriam incluídos na campanha de mobilização.
No sábado, Putin assinou um decreto confirmando que estudantes de centros de formação profissional e do ensino superior estariam isentos de mobilização.
Outra situação que gerou polêmica é o caso de manifestantes contra a ofensiva na Ucrânia que receberam ordens de mobilização enquanto estavam detidos. O Kremlin disse que nesses casos “não havia nada de ilegal”.
Neste sábado, pelo menos 821 pessoas foram detidas em 34 cidades nos protestos contra a mobilização militar, segundo o mais recente balanço divulgado pela organização de direitos civis OVD-Info. Com isso, já passa de 2 mil a cifra de presos desde que Putin anunciou sua “mobilização parcial” para a guerra na Ucrânia. No primeiro dia de protestos, mais de 1.300 pessoas foram presas, segundo a OVD-Info.
md (AFP, Lusa)