21/09/2022 - 15:18
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, determinou na manhã desta quarta-feira, 21, pela primeira vez desde o inicio da Guerra contra a Ucrânia, a mobilização de até 300 mil reservistas para se unir às tropas russas escaladas para a invasão do país dirigido por Volodymyr Zelensky. No pronunciamento, Putin também afirmou que irá proteger as populações de territórios, os quais pretende anexar, em referendos que serão realizados em quatro regiões ucranianas no leste e sul do país a partir desta sexta-feira 23. Disse também estar disposto a utilizar armas nucleares táticas contra os aliados de Kiev, se for necessário.
“Na sua política agressiva antirrussa, o Ocidente cruzou todas as linhas”, disse Putin. ”Chantagem nuclear tem sido usada, e não estamos falando apenas do bombardeio da usina de Zaporíjia. Mas também de pronunciamentos de altos representantes da Otan sobre a possibilidade de usarem armas de destruição em massa contra a Rússia”, afirmou Putin, fazendo referência ao pronunciamento do presidente americano, Joe Biden, no último domingo 18, no qual afirmou que se os russos utilizarem armas nucleares, os EUA teriam uma reação proporcional.
“Eu gostaria de relembrá-los que nosso país também tem vários meios de destruição, e, em alguns casos, eles são mais modernos do que aqueles de países da Otan. Quando a integridade do nosso país é ameaçada, é claro que nós iremos usar todos os meios à nossa disposição para proteger a Rússia e o seu povo. E isto não é um blefe,’’ afirmou Putin.
Se as regiões da Ucrânia que estão sob domínio russo virarem parte da Rússia, no entendimento legal do Kremlin, ataques a essas áreas passam a ser contra a Rússia. Desta forma, dando cobertura para o país usar bombas nucleares, pois a doutrina russa prevê o uso de bombas nucleares caso sejam para uso contra suas tropas. Podemos utilizar ogivas táticas de baixa potência, ou ogivas estratégicas, que aspiram mudar o rumo da guerra com grande destruição, se existir risco existencial ao país”, completou o presidente russo.
Diversas figuras públicas se pronunciaram sobre as ameaças de Putin, como foi o caso do Papa Francisco, que afirmou, durante audiência semanal no Vaticano, “que é uma loucura pensar em usar armas nucleares neste momento”.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, chamou as ameaças do presidente russo de “retórica perigosa e imprudente”. “Vamos garantir que não haja mal-entendidos em Moscou sobre exatamente como vamos reagir. Claro que depende do tipo de situação ou de que tipo de armas eles podem usar. O mais importante é evitar que isso aconteça, e é por isso que estamos sendo muito claros em nossas comunicações com a Rússia sobre as consequências sem precedentes desse ataque”, afirmou Stoltenberg.
O presidente americano, Joe Biden, voltou a condenar as ações da Rússia em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, nesta quarta-feira 21. “Essa guerra busca a extinção do direito de a Ucrânia existir como um Estado, pura e simplesmente. O mundo precisa ver esses atos absurdos pelo que são. Se as nações puderem exercer suas ambições imperiais sem que haja consequências, então arriscamos tudo o que esta instituição representa. Putin fez ameaças nucleares contra a Europa, em um desprezo irresponsável do tratado de não-proliferação. A Rússia está convocando mais soldados para lutar e o Kremlin está organizando referendos fajutos para tentar anexar partes da Ucrânia”, disse Biden.
Dentro da Rússia, o pronunciamento de Putin gerou protestos em Moscou, e ao menos 66 pessoas foram presas, segundo o grupo de monitoramento da perseguição política na Rússia.