Praticamente a metade do patrimônio do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus familiares foi adquirida nos últimos 30 anos com uso de dinheiro vivo, o que é uma das formas suspeitas nos meios policiais de aquisições irregulares. Desde 1990 até os dias atuais, o presidente, suas duas ex-mulheres, cinco irmãos, três de seus filhos e até sua mãe negociaram 107 imóveis. Destes, ao menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com a utilização de dinheiro vivo, de acordo com declarações dos familiares do presidente. As informações são do UOL.

As compras registradas nos cartórios com a forma de pagamento ‘’em moeda corrente nacional’’, expressão utilizada para repasses em espécie, totalizaram R$ 13,5 milhões. Em valores corrigidos pelo IPCA, esta quantia equivale atualmente a R$ 25,6 milhões.

Até a mãe do presidente, Olinda Bonturi Bolsonaro, falecida em janeiro deste ano, aos 94 anos, teve os dois únicos imóveis quitados em espécie, em 2008 e 2009, em Miracatu, no interior de São Paulo. Em janeiro de 2008, Olinda, aposentada e viúva, então com 81 anos, assinou a compra de um terreno em área comercial, de 451 m², por R$ 35 mil (cerca de R$ 82,7 mil, de acordo com o reajuste do IPCA). E, em maio de 2009, comprou o terreno vizinho, com 461m², por R$ 80 mil (R$ 174,6 mil atualizados). As duas compras foram feitas com dinheiro em espécie.

No entanto, os imóveis foram comprados para abrigar uma loja de móveis e miudezas fundada pelo irmão do presidente, Renato Bolsonaro, e administrada por Vitória Leite Bolsonaro, filha de Renato e sobrinha do chefe do executivo. Em 2011, os imóveis foram doados por dona Olinda a Luiz Paulo Leite Bolsonaro, outro filho de Renato. A advogada de Vítoria afirmou que “os imóveis foram adquiridos pela mãe do presidente da República, que já faleceu e não pode prestar esclarecimentos hoje. Posso garantir que foram adquiridos de forma legal’’.

Contudo, o antigo proprietário relata que quem o procurou para fechar o negócio foi Renato. “Eu já estava com o terreno vendido, mas o Renato soube e me procurou. Eu nem sei em nome de quem a venda foi registrada, mas foi uma venda feita para ele mesmo’’, afirmou Onisvaldo Ribeiro.

Em 2006, o presidente comprou do irmão o imóvel onde funciona seu escritório político no Rio, uma casa no bairro Bento Ribeiro, por R$ 40 mil. A compra também foi realizada em espécie. Este é um dos cinco imóveis que Jair Bolsonaro adquiriu ao longo de sua trajetória política, pagos em dinheiro vivo.

Desde 2018, os filhos Carlos e Flávio Bolsonaro, como também Ana Cristina Valle, segunda mulher do presidente, são investigados por suspeita de envolvimento no repasse ilegal de salários de funcionários de gabinetes, que sacavam e entregavam cerca de 90% do salário. As investigações sobre Flávio no MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) apontaram que esses valores eram ‘’lavados’’ com a compra de imóveis.

O imóvel do clã bolsonaro mais caro comprado em espécie foi realizado por uma das irmãs de Jair, Maria Denise Bolsonaro, e por seu cunhado, José Orestes Fonseca. Trata-se de duas mansões localizadas dentro do terreno de quase 20 mil metros quadrados na região de Cajati, interior de São Paulo, sob o valor de R$ 2,67 milhões (cerca de R$ 3,47 milhões atualizados).

Desta forma demonstra que o chefe do executivo e seus familiares realizam há três décadas uma verdadeira ‘’lavanderia’’ em imóveis, pois não há como saber a procedência deste dinheiro utilizado na compra dos bens. Além do que, este método de comprar imóveis com dinheiro vivo é usado geralmente por organizações criminosas que objetivam ‘’lavar’’ recursos de procedência ilegal.