Um grupo formado majoritariamente por empresários que apoiaram ou ainda apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL) busca um canal de diálogo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – líder nas pesquisas de intenção de votos na corrida pelo Palácio do Planalto. O petista, porém, tem se esquivado de um possível encontro e escalou o candidato a vice, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), para conversar com os empresários.

Fundado em 2020, o Instituto Unidos Brasil defende pautas encampadas pelo empresariado por meio da Frente Parlamentar do Empreendedorismo e promove eventos com políticos, sobretudo bolsonaristas. A entidade não tem quadro público de associados, mas entre os “colaboradores voluntários” estão Flávio Rocha (Riachuelo), Alberto Saraiva (Habib’s), José Carlos Semenzato (do setor de franquias) e o ex-PM Washington Cinel (fundador da Gocil). Procurados, os empresários não se manifestaram.

Entre os apoiadores está, ainda, o empresário Tomé Abduch, do movimento Nas Ruas e candidato a deputado estadual em São Paulo pelo PTB. Salim Mattar, fundador da Localiza e ex-secretário de Desestatização de Bolsonaro, também integra o grupo. Eventos do grupo já reuniram o jurista Ives Gandra Martins, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, que declarou voto em Bolsonaro no segundo turno, e a deputada Carla Zambelli (PL-SP).

Questionado pelo Estadão se compareceria à sabatina com Lula, e se concordava com o aceno dos empresários do Instituto também a outros candidatos, Abduch não se manifestou. Após a publicação da reportagem, Abduch disse que “não foi pessoalmente consultado e não apoiaria qualquer aproximação” com o ex-presidente Lula, a quem ele chama de “ex-presidiário”. Em nota, o Instituto Unidos Brasil afirma que Abduch “não colabora ou possui vínculo” com as atividades da entidade e disse que o empresário as compareceu “pontualmente ao lançamento da Frente Parlamentar do Empreendedorismo no Congresso”.

No evento mencionado pela entidade, Abduch não apenas gravou um vídeo em que dizia que o “Instituto Unidos Pelo Brasil vai se tornar um grande patrimônio do povo brasileiro” como a própria entidade publicou uma foto sua em agradecimento aos seus “apoiadores”.

Acenos a Lula

Recentemente, no entanto, os empresários passaram a fazer acenos a Lula e interlocutores. Animou o grupo o fato de o petista ter prometido, na semana passada, durante evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), uma reforma administrativa no início de um eventual governo, além de ter mencionado a “desoneração da produção”.

“Eu acho que Lula, orientado, talvez conversando com seus futuros ministros e principalmente o da Economia, sentiu que a desoneração é uma questão irreversível. Dezessete segmentos foram desonerados, e agora a gente precisa desonerar os demais. O presidente que receber uma herança de 12 ou 13 milhões de desempregados tem de fazer alguma coisa. Eu acho que o Lula acabou voltando atrás, está sendo coerente nas posições, e a gente torce para que ele mantenha isso caso seja presidente”, disse Nabil Sahyoun, presidente do Instituto Unidos Brasil e da Associação Brasileira dos Lojistas de Shopping.

No próximo evento, no dia 1º de setembro, sobre desoneração da folha salarial, pauta que os empresários querem levar a todos os candidatos à Presidência, o ministro da Economia, Paulo Guedes, estará presente. Entre os participantes também estará um interlocutor de Lula, o presidente da União Geral do Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah.

O sindicalista tem tentado convencer o petista a participar de uma sabatina do Instituto Unidos Brasil, em setembro, em um hotel em São Paulo, além de incluir na agenda um encontro reservado com os empresários. Para a sabatina, o convite foi feito por meio de uma carta enviada a Lula no dia 11 de junho, assinada por Sahyoun e pelo presidente da Associação Brasileira de Supermercados, João Galassi. O encontro ocorreria durante a 56.ª convenção nacional do setor. Outros presidenciáveis também foram convidados.

No documento, eles propõem que Lula tenha uma fala de dez minutos e, depois, responda a rodadas de perguntas dos empresários. O petista ofereceu o nome de Alckmin para representá-lo, sob o argumento de que há incompatibilidade de agenda, mas ainda não foi batido o martelo. “Eu falei com o Lula para que ele vá, é importante. Ele tem de estar com a área empresarial, por mais que a área empresarial do comércio seja mais conservadora”, disse Patah ao Estadão. À reportagem, a assessoria do ex-presidente afirmou que ainda não está definido se o petista irá, ou não, à sabatina com o setor dos supermercados.