14/07/2022 - 17:14
O Sistema da Cantareira, que abastece cerca de 7,2 milhões de pessoas por dia na Grande São Paulo, opera em estado de alerta desde o dia 1º deste mês, quando estava com cerca de 39,6% de sua capacidade. O Cantareira está funcionando abaixo de 40% desde o dia 28 de junho. Especialistas apontam para crise hídrica, mas a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) nega um colapso no abastecimento.
Este nível é o mais baixo para o mês de julho em cerca de oito anos, quando o manancial praticamente secou e se mostrou indispensável a utilização do volume morto – que é a reserva técnica de água contendo cerca de 480 bilhões de litros de água, que fica localizada abaixo das comportas, para se evitar o total desabastecimento da população. Anteriormente a esse momento, a água do volume morto nunca tinha sido usada para abastecer a população.
O volume considerado normal da Cantareira é de no mínimo 60%. Na mesma época no ano passado o nível da Cantareira era de 44%, enquanto a média histórica deste mês é de 46,5%. A razão para os baixos níveis da Cantareira é o déficit de chuvas de cerca de 25% que ocorreram entre Janeiro a Junho deste ano. Se esta situação se mantiver e os níveis continuarem descendo nesta proporção, o reservatório pode chegar a setembro deste ano com cerca de 26% de seu volume total, segundo projeção do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). A determinação da Agência Nacional de Águas (ANA), na prática, devido ao estado de alerta, limita a quantidade de água que a Sabesp pode retirar do manancial.
Em nota emitida no inicio do mês, a Sabesp afirma que não há risco de desabastecimento na região Metropolitana de São Paulo. Contudo reconhece que tem diminuído a pressão da água nas casas para economizar água. De acordo com o pesquisador Pedro Luiz Côrtez, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), este fato já caracteriza uma crise hídrica.
“No meu entendimento, o fato de a Sabesp ter ampliado, em 2021, o programa de redução noturna da pressão na rede de distribuição, dilatando o horário e aumentando o número de bairros atingidos, mostra uma reação ao nível preocupante do Sistema Cantareira”, afirmou Luiz Côrtez.
De janeiro ao mês de junho deste ano choveu apenas cerca de 75% do previsto para média histórica. Portanto, ocorreu, um déficit de 25% de chuvas, segundo análise de Côrtez. “À exceção de janeiro, as chuvas ficaram abaixo da média em todos os demais meses. Isso mostra que os prognósticos climáticos estavam corretos ao apontar que teríamos um período de redução de chuvas durante o verão e também no outono. Isso coloca a Cantareira em uma situação de alerta com o agravante que o prognóstico de redução de chuvas se mantém para o segundo semestre”.
O Sistema da Cantareira é também a principal reserva de água das bacias de regiões do interior do estado São Paulo, que são populosas como Campinas e Jundiaí. No último dia 4, o Consórcio das Bacias do Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), emitiu a 40 prefeituras de seus municípios membros uma nota de alerta sobre o déficit de chuvas. “A insistente redução das precipitações (chuvas) durante o ano de 2022, o que tem afetado a disponibilidade hídrica da região, com possíveis impactos à oferta de água.
No mês passado, de acordo com dados da equipe técnica do Consórcio PCJ, as chuvas ficaram abaixo da média histórica em cerca de 59,8% em toda bacia hidrográfica. “As previsões para os próximos meses indicam a queda contínua desse volume devido à pouca ocorrência de chuvas, temperaturas elevadas e baixa umidade do ar. Nesse momento, é necessária uma campanha de conscientização sobre o cenário hidrológico para que a comunidade seja o menos impactada possível”, alertou o Consórcio PCJ.