Acaba prazo para soldados em siderúrgica de Mariupol se renderem

ROMA, 20 ABR (ANSA) – Terminou o último prazo dado pela Rússia para os combatentes da Ucrânia entrincheirados na siderúrgica Azovstal, em Mariupol, se renderem.   

O Exército de Moscou havia estipulado até meio-dia (horário local) para os ucranianos entregarem as armas, porém, até o momento, não há nenhum sinal de rendição.   

Mariupol, importante cidade portuária da região de Donetsk, no leste da Ucrânia, está sitiada pela Rússia há quase dois meses, e os invasores tentam derrubar o último foco de resistência para reivindicar a conquista do município.   

“Esses podem ser nossos últimos dias, nossas últimas horas de vida”, disse o comandante da 36ª Brigada de Fuzileiros Navais da Ucrânia, Sergei Volyna, em um vídeo divulgado no Facebook. “O inimigo é 10 vezes mais numeroso que nós. Fazemos um apelo a todos os líderes mundiais para que nos ajudem. Pedimos a eles que utilizem um procedimento de remoção para nos levar a um país terceiro”, acrescentou.   

A Rússia já deu três ultimatos para os combatentes na Azovstal, mas poucos soldados se renderam. Na última terça (19), separatistas de Donetsk disseram que 120 civis haviam sido evacuados da siderúrgica, porém a informação não foi confirmada por Kiev. Além disso, Moscou acusa os “nacionalistas ucranianos” de usarem civis como “escudos humanos” na indústria.   

No entanto, o vice-prefeito de Mariupol, Sergei Orlov, disse à emissora britânica BBC que os civis escondidos na Azovstal são moradores de edifícios vizinhos destruídos em bombardeios russos e trabalhadores da siderúrgica. “Eles sabiam que a fábrica tem um bom refúgio antiaéreo e o encheram de comida e água. Por isso, decidiram viver ali com suas famílias”, explicou.   

Segundo Orlov, agora eles enfrentam escassez de itens de primeira necessidade devido ao cerco. “A Rússia impede tudo, todas as ajudas humanitárias ou evacuações”, acrescentou. Além da Azovstal, cerca de 100 mil civis continuam em Mariupol e precisam conviver com o crescente domínio russo.   

“Os ocupantes passaram de ofertas ‘suaves’, como colocar fitas brancas nos civis, até ameaças diretas de abrir fogo contra qualquer um que sair na rua sem essas fitas”, contou um assessor da prefeitura, Petro Andryushchenko, no Telegram, acrescentando que os russos estão transformando a cidade em um “verdadeiro gueto”.   

A conquista de Mariupol é crucial para o objetivo de Moscou de estabelecer uma conexão terrestre entre a Crimeia anexada e os territórios rebeldes no Donbass. Além disso, essa seria a primeira grande vitória militar do regime de Vladimir Putin na Ucrânia desde o início da guerra, embora a cidade tenha sido arrasada durante quase dois meses de cerco.   

Mariupol também tem um caráter simbólico por ser o berço do Batalhão de Azov, milícia paramilitar de extrema direita incorporada ao Exército ucraniano e acusada de neonazismo pela Rússia.   

Analistas acreditam que Moscou queira comemorar a tomada de Mariupol em 9 de maio, aniversário da rendição nazista na Segunda Guerra Mundial. (ANSA).