24/01/2022 - 14:05
Há dois anos, as universidades do mundo inteiro se viram afetadas pela pandemia da covid-19, que as obrigou a aumentarem seus recursos digitais. Tal mudança teve um efeito perverso: aprofundou as diferenças entre as regiões, assim como a desigualdade entre os estudantes.
“A grande mudança observada durante a pandemia é claramente o fechamento generalizado dos campi a nível internacional e uma transição para o ensino à distância, com grande heterogeneidade nas respostas e nos níveis de preparação”, explica à AFP Mathias Bouckaert, analista na OCDE e especialista em questões universitárias.
“Em alguns países, o ensino online já ocorria, como no Canadá, onde os invernos rigorosos às vezes tornam os deslocamentos impossíveis. Em outros países, como a Turquia, onde a lei impunha um nível importante de ensino presencial, estas práticas eram muito menos corriqueiras”, assinala.
A covid-19, que causou o fechamento das universidades em março de 2020 na maioria dos países e a implementação do ensino à distância, e depois uma forma híbrida (entre presencial e remoto), teve “um impacto variado conforme as regiões e o nível de recursos”, com países da Europa e América do Norte “melhor [preparados] para fazer frente às perturbações”, diz também um relatório da Unesco publicado no início de 2021.
Este é o caso dos Estados Unidos, onde as matrículas de alunos em programas remotos aumentaram 29% entre 2012 e 2018. Segundo as estatísticas oficiais, 16% dos estudantes nos EUA acompanhavam as aulas exclusivamente à distância no fim de 2018.
– ‘Onde estão as instalações?’ –
Nos EUA, a maioria dos estabelecimentos universitários ficou fechada de março de 2020 a agosto de 2021 por conta da pandemia, o que resultou em uma queda no número de matrículas, sobretudo de estudantes internacionais, cujo número de inscrições caiu 17% entre 2019 e 2021, segundo o centro de pesquisa National Student Clearinghouse.
“De forma geral, as universidades que tinham estudantes internacionais se viram muito impactadas pela digitalização”, resume Mathias Bouckaert, citando como exemplos Reino Unido, Estados Unidos e Austrália.
Além disso, mesmo que o ensino à distância tenha funcionado bem em alguns países, como o Canadá, em outras regiões do mundo, como a África, a situação é completamente diferente.
No Quênia, o acesso à internet e a computadores é um dos principais problemas. “Estamos muito mal equipados”, conta Masibo Lumala, conferencista na Universidade Moi. “Temos competência para ensinar online, a maioria de nós tem formação para isso. Mas, onde estão as instalações?”, questiona.
Phylis Maina, estudante de odontologia na Universidade de Nairóbi, também critica a qualidade ruim da conexão de internet e lamenta que “as interações sociais entre professores e estudantes […] desapareceram”.
Nesse sentido, a pandemia não transformou apenas o formato do ensino, mas também a vida estudantil, o que tem repercussões psicológicas e ajuda a aumentar as desigualdades.
“Meus pais me disseram que a faculdade era a época em que conheceríamos pessoas para a vida, mas não é isso o que vejo”, conta à AFP Emil Kunz, de 22 anos, um estudante de agronomia em Berlim.
“Em nível geral, houve impacto na saúde mental. O isolamento e os confinamentos foram complicados”, reitera Mathias Bouckaert. A pandemia também “exacerbou as desigualdades já existentes”. “Os alunos menos favorecidos tiveram mais dificuldades”, sobretudo os que possuem filhos ou não dispõem de computador, acrescenta.
Para Raphaëlle Laignoux, vice-presidente a cargo da vida estudantil na Universidade Paris-Sorbonne, na França, por mais que algumas instituições tenham implementado ajudas para os alunos em termos de acesso a equipamentos e internet, “é nas condições sociais – em que lugar estão e como se alimentam – que as desigualdades persistem”.
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