Mitômanos não sentem constrangimentos quando mentem — e eles mentem em todos os momentos. Assim é o presidente Jair Bolsonaro. Acompanhemos seu último lance no âmbito da vacinação infantil:
A equipe de técnicos e médicos alinhada com o governo – e, portanto, contrária à vacinação – foi nocauteada por profissionais da saúde sérios e competentes na esdrúxula audiência pública inventada pelo ministro Marcelo Queiroga.

Assim, finalmente, crianças entre 5 e 11 anos de idade serão vacinadas em meados de janeiro, e Queiroga não tem mais como manobrar: ele teve de ceder diante daqueles que de fato entendem de medicina.

Bolsonaro fez então as seguintes declarações mentirosas:
Mentira 1: “vocês têm conhecimento de alguma criança de cinco a onze anos que tenha morrido de Covid? Eu não tenho”. Presidente, todo o mundo tem conhecimento. O senhor não o tem porque, na verdade, não possui conhecimento sobre nada. A sua ignorância é total em relação a tudo e a todos. Em 2020 morreram de Covid duzentas e noventa e sete crianças nessa faixa etária; em 2021 morreram duzentas e sessenta e uma.

Mentira 2: “qual o interesse da Anvisa por trás disso aí? (…) É pela sua vida? É pela saúde? Se fosse, estariam preocupados com outras doenças no Brasil e não estão”, disse Bolsonaro.

Estão preocupados, sim, presidente, o senhor é que não sabe de nada. Absolutamente de nada.

A Anvisa está preocupada com as crianças de 5 a 11 anos, em relação à Covid, porque o Sars-CoV-2 tem matado mais que a média anual das doenças prevalentes como causa de óbito nesse faixa de idade: câncer no cérebro, enfermidades circulatórias e paralisia cerebral.

Separei para o senhor, presidente, uma frase do genial Machado de Assis, um dos principais escritores brasileiros e um dos maiores conhecedores da alma humana: “tem gente que mente tanto que nem sente que está mentindo. Mas as pessoas ao redor sabem. Não se engane!”. No caso de Bolsonaro, ele sente que mente, sabe que os outros reconhecem a mentira, mas não possui sanidade suficiente que o faça calar a boca. Ou seja: ele sabe o que diz e o que faz.