15/12/2021 - 15:17
O verão é a época do ano em que a preocupação com a imagem e a vergonha da própria aparência se apresentam de forma acentuada. O uso de roupas de banho e/ou roupas curtas que “escondem” pouco, deixando mais do corpo à mostra, muitas vezes pode despertar inseguranças e impedir que algumas mulheres aproveitem o calor com momentos de lazer e descontração.
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As festas de final de ano e o período de férias podem acentuar ainda mais essa distorção corporal e de imagem, como explica a nutricionista Taís Rodrigues: “Nesse período, pessoas acabam se alimentando de forma mais exagerada, excedendo a necessidade calórica diária. Isso acaba causando uma sensação de inchaço, que pode ser considerado como retenção de líquido, mas é apenas um estado visual momentâneo”. Esse fator pode ser mais um impeditivo mental aos biquínis, já que o corpo está aparentemente “inchado” e as medidas estão “maiores” que o normal.
Em relação à vergonha da exposição do próprio corpo, a especialista em terapia cognitivo-comportamental com experiência em transtornos alimentares, Patrícia Medeiros, explica: “Somos levados a crer que existe um padrão ideal, ainda mais por conta desse mundo de Instagram, com tantas imagens e modificações”. Ela ressalta que, apesar de aparecerem mais no verão, os transtornos de imagem e transtornos alimentares estão presentes durante todo o ano. “O que aparece mais no verão é a preocupação: ‘Nossa, comi o ano inteiro, e agora, o que eu faço?’”.
Baixa autoestima enraizada
Além das redes sociais e a obsessão com a imagem, Patrícia cita o comportamento dos pais como grande causador dos problemas de imagem em muitas situações. “Existem dados científicos que mostram que essa exigência, muitas vezes, vem da família. Pais extremamente preocupados com o corpo passam para seus filhos a imagem de que o que vale é uma pessoa que esteja dentro do padrão de beleza”, revela. E completa: “Quando uma criança é comparada a outras, ela cresce convivendo com a não-aceitação”. Essa crença estabelecida durante o crescimento de uma criança pode ter consequências para o resto da vida, podendo fazer com que pessoas imaginem que nunca serão bem sucedidas se não estiverem dentro do padrão de imagem.
Patrícia menciona ainda as distorções cognitivas feitas por pessoas com baixa autoestima: “A pessoa chega na praia e pensa ‘está todo mundo me olhando’”. Essas distorções, muitas vezes somadas à pressão familiar, podem ocasionar a atenuação de sintomas de ansiedade e depressão e ocasionar o surgimento de transtornos alimentares.
Fazendo as pazes com o biquíni
Tenha em mente que você não precisa mudar seu corpo para ser digna de um biquíni. Cada particularidade de seu exterior é parte de quem você é, como explica a psicóloga: “Pessoas com ‘luz’, pessoas alegres, chamam muito mais atenção pela maneira que são do que pelo corpo”.
Para se livrar da vergonha, Patrícia indica a chamada “terapia de exposição”. Ao chegar na praia ou na piscina, comece expondo um pouco do corpo: retire a blusa, mas fique de shorts, e retire-o somente quando se sentir à vontade para estar de biquíni. Além disso, escolha modelos de roupas de banho que valorizem seu corpo e, principalmente, que te façam sentir à vontade. A terapeuta orienta ponderar a necessidade de utilizar as roupas “da moda”, em detrimento das peças que te fazem sentir confortável.
Embora a vergonha seja algo pessoal, busque avaliar suas causas e entender se uma delas é a vontade de agradar outras pessoas. Em uma tentativa de desconstruir esse sentimento, a psicóloga recomenda que quem tem vergonha de sua própria imagem se pergunte: “O outro está mesmo preocupado em avaliar o meu corpo? Todos vão realmente me olhar e se importar com o que estou vestindo?”.
O corpo pós-festas
Uma das razões do receio de aparecer de biquíni na frente de uma multidão é o inchaço causado pela alimentação típica do final do ano, como explicado pela nutricionista Taís Rodrigues. Apesar de ser uma condição momentânea, o inchaço está ligado à inflamação, que deve ser um ponto de atenção. “A inflamação é um processo de defesa do organismo, que pode ser desencadeado por diversas situações, como a má alimentação”. Com o excesso de alimentos pouco saudáveis, bebidas alcoólicas e a fuga da rotina, o organismo fica “inflamado”, ocasionando a retenção de líquidos.
Para desinflamar — e desinchar — rapidamente, a nutricionista recomenda alimentos integrais e com ação anti-inflamatória: folhas, vegetais e oleaginosas (fontes de gorduras boas), além de shots que contenham alho, alecrim, abacate, azeite e gengibre, por serem ricos em componentes que auxiliam no processo de desinchaço. Para um corpo mais saudável, Taís ainda sugere priorizar alimentos de origem natural e não excluir completamente nenhum grupo de alimentos.
E se você está planejando fazer uma dieta detox mirabolante para “recuperar” o tempo perdido antes de uma viagem ou “correr atrás do prejuízo” depois das festas, saiba que esse não é o melhor caminho. “Qualquer tipo de dieta que restrinja grupos inteiros de alimentos, despriorizando proteínas, carboidratos e gorduras, não tem comprovação científica”, orienta a nutricionista. Ela explica que uma alimentação reducionista pode contribuir com o processo inflamatório, visto que o organismo é privado de nutrientes que ele espera receber. “Essa condição pode ser revertida através de uma alimentação completa que entregue exatamente as nossas necessidades a nível calórico e de qualidade”, finaliza.
Respeite seu corpo
Para curtir as festas de final de ano sem vergonha ou preocupações, lembre-se que você não está sob julgamento, e seu amor-próprio é o que te fará brilhar. Patrícia menciona a importância de lembrar que a genética não permite que todos os corpos sejam iguais, e se comparar com pessoas da internet, que muitas vezes passaram por procedimentos estéticos ou aplicativos de edição, é injusto.
Ela ressalta que quem não está feliz com o próprio corpo também pode buscar maneiras de mudar, de forma saudável, com uma alimentação adequada e exercícios físicos. Não se esqueça que a terapia é essencial para lidar com transtornos de imagem e baixa autoestima, e que a vergonha não deve impedi-la de curtir o verão como você merece.