Quando a Covid chegou ao Brasil, no ano passado, Bolsonaro fez pouco caso do vírus. “É só uma gripezinha”, disse o capitão sobre a doença que, 12 meses depois, tiraria a vida de mais de 600 mil brasileiros. Durante a pandemia, estimulou as pessoas a saírem de suas casas, na contramão do que todas as autoridades sanitárias do planeta orientavam naquele momento. Demonizou a vacina descoberta em tempo recorde pelos cientistas, a ponto de ter se recusado a comprar milhões de doses da Pfizer no momento em que milhares de pessoas perdiam suas vidas nos leitos escassos dos hospitais. Em vez de estimular a população a se vacinar conforme sugeria a ciência, preferiu dar ouvidos a um grupo de lunáticos que indicaram ao presidente fazer publicidade de remédios que não funcionavam no combate à doença. Centenas de pessoas pagaram com as próprias vidas por causa disso.

Fez vista grossa para a roubalheira de dinheiro comandada por seus aliados no Ministério da Saúde durante a negociação de imunizantes, enquanto as mortes não cessavam no País. Enquanto foi investigado por sua gestão irresponsável ao longo da crise sanitária pela CPI da Covid no Senado, o mandatário debochou das denúncias que pesavam contra si. E, enquanto o Brasil atingia 51% da população devidamente imunizada, ele estava nas redes sociais destilando suas mentiras. Na mais recente, associou a vacina contra a Covid à contração de HIV.

A CPI aprovou nesta semana o relatório que acusa Bolsonaro por 9 crimes na pandemia. Agora, os desdobramentos dependem do bom senso do procurador-geral da República, Augusto Aras, reconduzido ao seu cargo por aquele contra quem o chefe do MPF agora precisa agir. E agir com responsabilidade de quem abre ações contra o chefe de Estado. Se prevaricar, os senadores da CPI ameaçam levar o caso para o Supremo, que teria, assim, a primazia de conduzir as investigações contra Bolsonaro, seus filhos e parlamentares com foro. Vai ser duro para Aras lutar contra a realidade. Se optar por isso, a história vai cobrar seu preço. Mas alguém tem que parar a insanidade do presidente, que continua a rir da cara da sociedade, como mostrou seu filho Flávio recentemente no Senado. Bolsonaro não pode continuar insensível, mas agora será a vez da Justiça falar.