27/09/2021 - 12:42
SÃO PAULO, 27 SET (ANSA) – Por Tatiana Girardi – A pequena margem de vantagem que o Partido Social-Democrata (SPD) obteve sobre a União Democrata-Cristã (CDU) nas eleições realizadas neste domingo (26) mostra que o novo governo da Alemanha deve demorar a ser formado. Mas, isso não deve levar a nenhuma mudança abrupta na política nacional.
É o que apontam especialistas consultados pela ANSA no dia seguinte ao pleito alemão. Além disso, a disputa também colocou foco em duas siglas “coadjuvantes”: Os Verdes – que conquistaram 15% dos votos – e o Partido Liberal Democrático (FDP), com 11,5%, e que poderão provocar um governo tripartite, sendo o primeiro da história.
Em sua primeira fala após o resultado oficial, o indicado do SPD para a Chancelaria, Olaf Scholz, afirmou que iria conversar com os Verdes e o liberais para debater a formação de um novo governo. Com isso, em um primeiro momento, a parceria com a CDU, que ocorre desde 2013, não deve se repetir.
Mas, os analistas ressaltam que, muito provavelmente, a “Grande Coalizão” irá ocorrer novamente para manter a estabilidade política alemã.
O professor da Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Pedro Brites, vê o resultado como uma derrota dos conservadores, já que após quatro mandatos consecutivos, a CDU perdeu a “predominância” que tinha no país e vê alguns desafios tensos para a formação do novo governo.
“Dada a maneira como eleição se colocou, em face do resultado ser bastante apertado, acaba gerando muitos questionamentos e dúvidas em relação a como será possível montar um governo efetivamente estável nos próximos meses. Inclusive, isso indica que muito provavelmente até o final do ano ainda teremos Angela Merkel no poder”, disse Brites à ANSA.
Lembrando que o governo alemão nunca foi tripartite, o professor ressalta que Scholz terá um desafio à frente, que deve ser marcado pela tensão.
“Obviamente, as duas peças-chaves nesse contexto são Partido Verde, o que mostra a importância de um tema como o das mudanças climáticas para o processo eleitoral alemão, e também o papel importante do FDP para esse atual contexto político. Então, esses dois partidos, que ficaram no terceiro e quarto lugares nas eleições, vão ter um papel central para definir quem vai efetivamente obter a maioria. A questão é será que o SPD ou a CDU vão conseguir negociar e oferecer coisas que sejam interessantes tanto para o Partido Liberal quanto para Os Verdes? Essa é a grande questão”, ressalta.
Citando o discurso de Armin Laschet, que era o indicado dos conservadores para substituir Merkel, em que ele “cedeu, mas mostrou que ainda não se deu por vencido”, Brites aposta que a CDU “fará um jogo duro também para poder se colocar à frente, quem sabe, mentalmente, para obter uma maioria”.
“E é claro que o SPD vai ficar muito apegado ao resultado da eleição, que colocou eles na frente. Esse vai ser um debate interessante, que a gente vai ter que olhar com muita atenção nos próximos meses para ver quais serão os resultados”, acrescenta.
Já o coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Márcio Coimbra, não vê muitas alterações significativas.
“No final das contas, o resultado não é muito diferente do que a Alemanha tem hoje porque, se nós tomarmos os votos do SPD, da CDU e do FDP, que são três partidos que a gente pode considerar três centristas, eles têm 60% dos votos. O SPD venceu, mas venceu por uma margem muito pequena e isso significa que o eleitor alemão está buscando uma continuidade. Até porque o vencedor do SPD é Olaf Scholz que é o ministro das Finanças da Angela Merkel”, ressalta Coimbra à ANSA.
Para o cientista político, “não vai haver uma mudança e a Alemanha continuará no mesmo caminho, com uma aliança que continue a mesma entre CDU, SPD – e entrando agora com o FDP”.
“Na verdade, o que a gente vai ter é um rearranjo da coalizão de governo, talvez saindo da liderança da CDU e entrando na liderança o SPD, mas que não muda a coalizão de forças dentro das linhas que a gente já teve no governo Merkel – independentemente de quem for assumir a Chancelaria. Não houve nenhuma mudança forte para um lado ou para outro. Houve uma votação pela continuidade, mas como um pequeno rearranjo aqui ou ali”, pontua ainda Coimbra. (ANSA).