Coluna: Ricardo Kertzman

Ricardo Kertzman é blogueiro, colunista e contestador por natureza. Reza a lenda que, ao nascer, antes mesmo de chorar, reclamou do hospital, brigou com o obstetra e discutiu com a mãe. Seu temperamento impulsivo só não é maior que seu imenso bom coração.

Considerado por si e seus devotos Deus, que então seja feita a vossa vontade: fora, golpista asqueroso

Considerado por si e seus devotos Deus, que então seja feita a vossa vontade: fora, golpista asqueroso

Vamos aos números e aos fatos; todos reais: economia em frangalhos, com 15% de desemprego; inflação geral de 10%; inflação dos alimentos e combustíveis em 30%; PIB negativo no trimestre, e menor que 2% ao ano; dólar a 6 reais; 40% da população em risco alimentar; menor consumo de proteína animal (carne, peixe e frango) em 25 anos.

Mais? Pois não. Quase 600 mil mortos por Covid-19; menos de 25% da população imunizada; 245 milhões de reais em medicamentos e testes vencidos; superfaturamento de vacinas em 1000%; propaganda e distribuição criminosa de medicamentos ineficazes contra o novo coronavírus; dezenas de mortes em Manaus por falta de oxigênio hospitalar.

Acabou? Não. Fim da Lava Jato; fim das 10 medidas de combate à corrupção; associação ao centrão; demonização de Sergio Moro; Flávio e Carlos Bolsonaro investigados por crime de peculato; nomeação do petista Augusto Aras para a PGR; uso de dinheiro público e de estatais em benefício eleitoral próprio; recorde de gastos secretos no cartão corporativo.

MUNDO

Tudo isso é apenas uma ínfima parte do estrago que Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, promoveu no Brasil em pouco mais de 2 anos de mandato. Há também o gigantesco dano internacional. Somos considerados párias pelo mundo desenvolvido. Seja pelo recorde de queimadas na Amazônia, pelo não-combate ao vírus ou pelo risco de ruptura democrática.

A imprensa estrangeira nos retrata como uma republiqueta de bananas – literalmente, haja vista reportagem do renomado jornal britânico, The Guardian -, e os chefes de Estado das maiores economias simplesmente se recusam a manter contato pessoal com o devoto da cloroquina. O Brasil jamais experimentou tamanho isolamento internacional.

O resultado de tanta, digamos, maluquice, começa a pressionar as exportações brasileiras, já que as empresas do segmento agropecuário vêm encontrando portas fechadas por conta da má imagem do País. Além disso, o risco-Brasil disparou, aumentando o custo externo de financiamento das nossas empresas, e mesmo suas dívidas em moeda estrangeira.

IMPEACHMENT

Bolsonaro sabe que não será reeleito. E sabe também que não terá vida fácil – nem os seus filhos – com a Justiça. Os diversos crimes que já cometeu – e que irá cometer – são sérios e irão lhe render pesadas condenações, inclusive na esfera penal internacional. Assim, só lhe resta a arruaça institucional e a tentativa (impossível!) de assumir o poder na base do golpe.

O amigão do Queiroz vem fazendo de tudo – e até mais um pouco! – para ser impichado. Se conseguir, terá um factoide (uma desculpa) a lhe servir como muleta perante seus devotos, que, como visto neste 7 de setembro, não são poucos, a despeito de tudo. Até porque, resta claro que essa gente já não é mais senhora de si; estão à mercê do mestre ilusionista.

Assim, o impeachment é o melhor negócio para todos. O Brasil se livraria deste aloprado golpista; o próprio se vitimizaria, culpando os comunistas, o STF e o Congresso por todo mal que causou ao País; a seita teria motivo para continuar fechando os olhos e ouvidos para mansões, rachadinhas, gastos secretos etc; e o mundo respiraria muito melhor.

O QUE FALTA

O diabo é que para um impeachment prosperar, será necessária a boa vontade de Arthur Lira, o presidente do Congresso Nacional, também dono de bilhões de reais em emendas parlamentares, presenteadas pelo próprio maníaco do tratamento precoce. Em seguida, a adesão em massa do tal centrão e do chamado baixo clero da Câmara.

Bem, um presidente fraco, um pato manco, é o melhor negócio para essa gente, que assim entope os bolsos de dinheiro. Apear Bolsonaro do poder é matar a galinha dos ovos de ouro. Sem contar com os cúmplices do Senado. O impeachment, não se esqueçam, é julgado na Casa Alta, no nosso modelo bicameral, ou seja, não basta apenas a vontade do sociopata.

Os próximos dias dirão o que vem por aí. Se os Poderes Legislativo e Judiciário cumprirem minimamente seus papéis constitucionais, o marido da receptora de cheques de milicianos encontrará o destino que tanto deseja, procura e faz por merecer. Do contrário, é melhor ‘jair se preparando’ para mais arruaças, aumento da crise política, piora do quadro econômico e profundo caos social.

Bolsonaro se pretende o Messias. Acredita ser Deus. Então, que seja feita a vossa vontade.