02/09/2021 - 15:03
Um palhaço se aposenta após 40 anos de trabalho. Como será sua vida? Quais suas maiores dificuldades? Este é o mote do primeiro longa-metragem da cineasta Patrícia Lobo, “O Palhaço, Deserto”, que estreia nesta quinta-feira (2) nos cinemas.
O filme chega em território nacional após ser exibido no Marché Du Film (Mercado do Filme), no Festival de Cannes, na França. A produção também tem estreia prevista para Portugal no dia 9/9. Em conversa com a ISTOÉ, Patrícia disse que o filme é “poético e político.”
“Inicialmente acontece a lembrança de quando Pradinho (André Ceccato) se aposentou, há um julgamento do personagem Cidadão (Paulo Jordão), que eu diria que representa uma boa parte da sociedade brasileira em relação aos artistas e no ponto de vista político. E hoje em dia com toda a crise política na qual nos encontramos, isso fica cada vez mais evidente, este destrato em relação aos artistas e a cultura no Brasil, estendo isso também para educação. Comportamento estimulado por governos autoritários. O Cidadão, como seu próprio nome sugere, representa a população brasileira com seus defeitos e qualidades. Há uma ambiguidade nele. Nunca sabemos, de fato, se ele é um palhaço de ofício ou um cidadão comum”, disse a cineasta.
O filme também aborda a violência doméstica, através da história de uma mulher de classe média que é violentada pelo marido, que é pastor. “O tema é abordado trazendo o recorte de como é difícil fazer a denúncia para uma mulher violentada. Como a maior parte das mulheres sentem-se tão fragilizadas durante todo o processo de violência sofrido, sobretudo o psicológico. Na história, a personagem da Júlia se vê sem forças para fazer a denúncia. Ela encontra amparo no grupo de amigas que a acolhe”, disse Patrícia.
A cineasta disse que a maior dificuldade de montar o filme foi ter um baixo orçamento e ainda as limitações impostas pela pandemia. “Foi exaustivo, embora muito emocionante e gratificante”, afirmou.
O filme também foi o último feito pelo ator André Ceccato, falecido no dia 27 de julho e que atuou em clássicos do Cinema Nacional, como Carandiru e Bicho de Sete Cabeças. “Seu extraordinário trabalho está registrado para eternidade. Estou fragilizada com sua morte até hoje. Além do André ser um dos maiores atores que o Brasil já teve e sempre ter contribuído em meus trabalhos com tamanha generosidade, ele era meu amigo há 20 anos. É uma grande perda”, disse Patrícia.
Serviço:
O Palhaço, Deserto