A decisão do prefeito de Cannes de proibir o uso de burquini – traje de banho islâmico – nas praias da cidade gerou uma onda de críticas na França, nesta sexta-feira (12), onde as associações acusam-no de distorcer o princípio da laicidade e alimentar a tensão.
Embora na França o uso do véu integral seja proibido nos espaços públicos, a legislação não diz nada sobre o uso de símbolos, ou de indumentária religiosa, como seria o caso do burquini. O traje cobre todo o corpo da mulher, salvo o rosto, os pés e as mãos.
No final de julho, porém, o prefeito republicano (direita) David Lisnard decidiu que “o acesso às praias e ao banho está proibido a qualquer pessoa que não tenha uma indumentária correta, respeitosa dos bons hábitos e da laicidade”.
De acordo com o texto aprovado por Lisnard, “uma roupa de praia manifestando de maneira ostentatória um pertencimento religioso, no momento em que a França e os locais de culto religiosos são, atualmente, alvo de ataques terroristas, é de natureza a criar riscos de perturbações da ordem pública (multidões, conflitos, etc.), o que é necessário prevenir”.
Essa proibição “distorce o laicismo que tem por vocação”, denunciou hoje a Liga de Direitos Humanos (LDH), que quer recorrer à Justiça para anular a legislação.
Já o Coletivo contra a Islamofobia na França (CCIF) manifestou sua “profunda preocupação” com o que chamou de “um novo atentado contra os princípios mais elementares do Direito”.
Uma decisão desse tipo é fruto de uma “estratégia da tensão”, acusou a associação SOS Racismo.
“O fundamentalismo deve ser combatido com argumentos jurídicos impecáveis, para não oferecer [aos fundamentalistas] vitórias nos tribunais”, declarou o partido socialista local.
Desde 2015, a França vem sendo atingida por vários atentados extremistas e, desde então, os atos antimuçulmanos se multiplicam.
Há poucos dias, uma outra polêmica já havia sido registrada. Uma associação muçulmana da região de Marselha tentou reservar um parque aquático privado, por um dia, para organizar uma saída reservada para mulheres que usam o traje de banho islâmico. Diante da enxurrada de críticas, o parque acabou rejeitando o pedido.