A CPI da Covid deverá denunciar o presidente Jair Bolsonaro por muitos crimes e entre eles estão o charlatanismo e o curandeirismo. Isso quer dizer – e não parece haver a menor dúvida a esse respeito – que ele exerceu a medicina de forma ilegal e usou argumentos falaciosos para convencer o povo da eficácia de remédios inúteis contra o coronavírus. Todo mundo viu que, durante meses, Bolsonaro agiu como médico impostor tentando explorar a credulidade pública ao incentivar um tratamento milagroso representado pelo kit-Covid, que incluía drogas como a cloroquina, a ivermectina e a azitromicina. Apesar de parecer um detalhe no rol de loucuras cometidas pelo presidente, esse talvez seja seu crime mais evidente e grave ao longo da pandemia.

Infectologistas ouvidos pela revista ISTOÉ nos últimos meses estimam a contribuição direta de Bolsonaro para o aumento do número de mortes pelo coronavírus no Brasil em pelo menos 30%. Ou seja, se não fosse a irresponsabilidade do mandatário, cerca de 200 mil óbitos poderiam ter sido evitados. O discurso do presidente tumultuou os esforços de combate à doença e influenciou negativamente a população no que se refere ao respeito às medidas de distanciamento e ao uso de máscaras. E enquanto alardeava, de forma mentirosa, a eficácia do kit-Covid, ele tratou de retardar propositalmente a importação de vacinas e o planejamento da vacinação causando perturbação em um processo que poderia ser tranqüilo e produtivo. O resultado foi uma calamidade e uma mortandade acima de todas as projeções.

Bolsonaro, na sua profunda ignorância, acha que não há nada de grave em ser acusado dessas duas ilicitudes. Para ele, como era de se esperar, essas denúncias são insignificantes perto de outras irregularidades também cometidas por ele associadas à corrupção. Mas a verdade é que elas são graves o suficiente para levá-lo à cadeia. Embora despreze as pechas de curandeiro e charlatão, serão elas, provavelmente, que irão sacramentar seu ocaso.