Antes de Bolsonaro ser eleito, em 22 de julho de 2018, durante a convenção nacional do PSL, o general Augusto Heleno, atual ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse o seguinte: “Se gritar pega centrão, não fica um meu irmão”. Heleno parodiou um samba que vez sucesso na voz de Bezerra da Silva, trocando a palavra “ladrão” pelo nome desse grupo que hoje comanda o Brasil. Naquela época, Bolsonaro e sua trupe fazia de tudo para que a população acreditasse que ele jamais se curvaria às polêmicas exigências feitas pelos partidos do Centrão em troca de governabilidade. Mas tudo isso não passou de promessa barata.

Hoje, o governo Bolsonaro é refém desse grupo. Além de ter contemplado o Centrão com vários cargos no primeiro escalão, o capitão tem o seu futuro nas mãos do principal representante do bloco: Arthur Lira. O presidente da Câmara está sentado sobre uma pilha gigantesca de pedidos de impeachment contra o mandatário, fragilizado pelas denúncias de corrupção durante a pandemia.

Lira tem assegurado publicamente que não vai analisar essas solicitações por não ver motivos para isso. Mas isso não pode ser dado como garantia quando se é dito pelo Centrão. Bolsonaro sabe disso como ninguém. Tanto é que já começa a planejar uma nova reforma ministerial, voltada principalmente a ampliar o espaço do grupo de Lira no governo. A previsão é de que o Centrão ganhe ainda mais protagonismo, já que o presidente vai entregar o comando da Casa Civil para o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do partido e o principal líder desse grupo fisiológico.

A mexida no tabuleiro é bastante simbólica. O ex-capitão passou a analisar essa possibilidade depois de receber reclamações de Lira sobre o atual ministro da Casa Civil, o general Luiz Eduardo Ramos. Bolsonaro pelo menos já entendeu: manda quem pode, obedece quem tem juízo. O Centrão está no comando total do governo.