Uma das organizações mais respeitadas do mundo na defesa pela liberdade de informação incluiu nesta terça-feira, 6, o nome de Jair Bolsonaro na lista de chefes de Estado considerados “predadores da liberdade de imprensa”. O capitão está no mesmo balaio que outros políticos que ele mesmo já cansou de chamar de “ditadores.” Dividem espaço com ele na relação da ONG Repórteres Sem Fronteiras os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro; o da Rússia, Vladimir Putin; da Coréia do Norte, Kim Jong-un; e da Síria, Bashar Al-Assad.

Para a Repórteres Sem Fronteiras, a vida do jornalista brasileiro ficou mais difícil depois que Bolsonaro assumiu a cadeira de presidente, em janeiro de 2019. A ONG afirma que ofender esses profissionais faz parte da ação antidemoctrática do mandatário brasileiro. Ainda segundo a entidade, os ataques se intensificaram com a pandemia da Covid, o que, na prática, não faz a menor diferença. No Brasil de Bolsonaro, jornalista é atacado todo santo dia – mais ainda se for mulher. Várias delas foram vítimas do capitão ao longo do mandato. Não vale a pena citar cada uma delas. São muitas e levaria algum tempo.

Muito melhor é falar das respostas dadas diante de tanto machismo e truculência. E não poderiam vir de outra forma: com mais trabalho suado e jornalismo na veia. Hoje, a família Bolsonaro é alvo do inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal. Isso só aconteceu graças a uma reportagem publicada pela Folha, em 2018. Trabalho de uma mulher: Patrícia Campos Mello. A CPI só começou a investigar práticas de corrupção na compra de vacinas por causa de uma entrevista conquistada por uma mulher: Constança Rezende. Nesta semana, as pessoas ficaram sabendo que Bolsonaro também fazia parte de um esquema de rachadinha porque uma jornalista se dedicou por dias para chegar a essas informações. Também uma mulher: Juliana Dal Piva.

O presidente agride mulheres. Ponto. Sem olhar para o crachá. Sejam jornalistas, ou mesmo autoridades como ele. Muitas parlamentares já foram vítimas da fúria misógina de Bolsonaro. Agora, o mandatário está sob investigação na CPI, por suspeitas de prevaricar enquanto seus aliados pediam propina em troca de vacinas.

Há poucos dias, o noticiário foi tomado pelo possível envolvimento de Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, no rolo da Covaxin. A informação foi extraída do deputado federal, Luis Miranda (DEM-DF), por uma mulher, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), no dia em que ele depôs a CPI. Aliás, não custa lembrar que o colegiado em questão não conta com nenhuma mulher entre os membros titulares. Sorte para Bolsonaro. Se tivesse, talvez ele já tivesse sido deposto.