30/06/2021 - 10:53
Sentado sobre uma pilha de mais de 120 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse em entrevista ao jornal O Globo que não via circunstâncias para discutir a possibilidade de afastamento do capitão do maior cargo da República. Para quem tem o mínimo de bom senso, a afirmação de Lira soa como ironia barata, já que foi feita na época em que batíamos a triste marca de 500 mil mortes pela Covid no País. Se a perda de meio milhão de vidas de brasileiros não é uma circunstância minimamente razoável para fazer com que o presidente da Câmara mova uma palha no sentido de afastar o mandatário do poder, fica a dúvida: o que seria então razoável?
Além do volume assombroso de mortos, existem muitos outros motivos que já deveriam ter tirado o deputado de sua inércia oportunista. Não bastassem os que já estão sobre a mesa, nesta terça-feira, surgem ainda mais dois, aparentemente muito graves. O primeiro, vem à luz com a entrevista de Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante de uma vendedora de vacinas, à Folha, na qual revelou que o governo Bolsonaro cobrou US$ 1 por dose de vacina em propina.
O mesmo aconteceu com o deputado federal, Luis Miranda (DEM-DF), que denunciou as suspeitas de corrupção na compra da vacina da Covaxin a Bolsonaro em 20 de março. Poucos dias depois, Miranda admitiu ter recebido proposta de suborno em troca de seu silêncio para não atrapalhar nas negociações para a aquisição do imunizante.
As novas denúncias caíram como uma bomba em Brasília. As redes sociais foram tomadas por pedidos de impeachment-já e por cobranças por alguma iniciativa de Arthur Lira, hoje, de longe, o aliado mais estratégico do capitão, já que, até agora, faz vista grossa para não colocar esses pedidos de afastamento em votação na Câmara.
Existe muita coisa por trás da inoperância voluntária do presidente da Câmara, principalmente fatores que lhe custam poder e influência no governo. Sejam lá o que forem essas vantagens, a impressão que fica, no final, é de que o crime tem valido a pena.