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CHANCES IGUAIS
Os bolsistas passam a frequentar colégios particulares

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Uma tradição da Escola Americana do Rio de Janeiro preconizava que todo ano era feita a eleição do aluno mais simpático, o mais inteligente, e assim por diante. Em 1957, Jorge Paulo Lemann, aos 17 anos, foi eleito pelos colegas como o que mais teria chances de ser bem-sucedido. Anos depois, havia se formado na conceituada Faculdade de Economia de Harvard, passado por um estágio no banco internacional de investimentos Crédit Suisse e ganhado torneios profissionais de tênis. Em 1971, Lemann comprou uma corretora, a Garantia, que deu o pontapé inicial numa cultura de liderança totalmente diferente do que havia no Brasil. Em vez de tempo de casa e apadrinhamentos, o modo de gestão implantado por Lemann valorizava resultados. As expressões-chave eram meritocracia, formação de líderes e transformação de funcionários em sócios. Há pelo menos três décadas, Lemann é parceiro de negócios de Marcel Telles e Carlos Alberto Sucupira, que ajudaram a formar essa cultura empresarial. Mas fazer escola, para os três, foi além da metáfora. Eles decidiram torná-la parte da educação de talentos desde cedo.

Hoje, Lemann, Sucupira e Telles somados têm um império invejável – do qual fazem parte AmBev, Americanas.com e Submarino – e um patrimônio filantrópico também importante. Muitas das instituições que o trio apoia são dedicadas à educação e têm como princípios fundamentais valorizar o mérito, a ambição profissional e a intelectual. Na Fundação Lemann, que existe desde 2002, o olhar é sobre o panorama da educação, como modernizar os sistemas públicos de ensino no Brasil e aproximar o desempenho dos estudantes do de alunos de países mais desenvolvidos. Um dos estudos encomendados pela fundação, por exemplo, levantou dados sobre a legislação que permitia faltas aos professores da rede pública de São Paulo. Dos 210 dias letivos do ano, entre licenças, faltas abonadas e outras situações previstas por lei, é facultado ao professor se ausentar 183. Com o estudo, a fundação elaborou propostas para incentivar a produtividade e a eficiência, como gratificações financeiras para quem se destaca e plano de carreira baseado no desempenho. “Temos dois milhões de professores dando aula. Mas a falta de competitividade da nossa mão de obra é tão grande que chega a dar aflição. Eles não têm boa formação”, afirma Ilona Becskeházy, diretora-executiva da instituição. “Vai demorar entre três e cinco gerações para mudar o cenário.”

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Na lógica de incentivar espíritos empreendedores, outra empreitada de Lemann, Telles e Sucupira é a Fundação Estudar, criada em 1991. Totalmente meritocrática, tem por objetivo oferecer bolsas de graduação e pós-graduação para estudantes com alto potencial. Em média, quatro mil estudantes se candidatam a cada ano para cerca de 40 bolsas. “O número varia de acordo com a quantidade de bons candidatos inscritos”, afirma Thais Junqueira, diretora-executiva da fundação. As áreas de concessão das bolsas começaram na expertise do trio, economia e negócios, em que poderiam identificar claramente talentos, e se expandiu para políticas públicas, ciências exatas e tecnologia. “Uma vez que o estudante ganha a bolsa, estabelece um vínculo para a vida toda. Acompanhamos a faculdade, oferecemos orientação profissional”, diz Thais. Depois de formado, o bolsista ajuda novos alunos. É o que faz o ex-bolsista e administrador Plínio Ribeiro, que voltou há dois anos do mestrado em Nova York, na Universidade de Columbia, onde aprimorou conhecimento na área de conservação de florestas. “Agora eu apoio a fundação. Acho fundamental a rede de relacionamento entre os bolsistas e os líderes”, diz Plínio. O ex-bolsista, junto com outros sócios, dedica-se à Biofílica, empresa de gestão de florestas. “Estamos desenvolvendo uma lógica de negócios nova, para uma empresa privada se inserir na gestão de uma grande área florestal.”

Talentos na base da pirâmide não ficam de fora. Seguindo a mesma lógica, o Instituto Maria Telles (Ismart) concede bolsas de estudo em escolas de excelência em São Paulo a jovens de baixa renda que tenham alto potencial de aprendizado. “É um aluno diferenciado, que aprende mais rápido, curioso, determinado, motivado para estudar, e que tem grande envolvimento na tarefa”, descreve Inês França, gerente técnica do Ismart. O programa atende adolescentes a partir do sétimo ano do ensino fundamental e, se o aluno mantiver o desempenho esperado, garante a bolsa até o final do ensino médio. A ajuda pode ser estendida se ele for aprovado numa universidade de excelência nas áreas que o Ismart apoia. “Cerca de 80% dos alunos terminam o ensino médio e conseguem a bolsa”, afirma Inês. Como os estudantes vão para escolas numa realidade socioeconômica muito distante da que saíram, há um acompanhamento psicológico de cada um para evitar problemas na educação formal. Os dois primeiros anos têm turno dobrado: um período é na escola em que o aluno já estava matriculado e o outro em adaptação no colégio particular. Essas iniciativas são bons exemplos de como propagar a cultura da liderança.
Colaborou Suzane G. Frutuoso

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