Receber ameaças de morte, por carta ou telefone, faz parte da rotina dos promotores de justiça que investigam o crime organizado em São Paulo. Acostumados a lidar com a "cortesia", os avisos constantes dizendo "você vai morrer" já viraram até motivo de brincadeira entre eles. Mas, o promotor Roberto Porto, 33 anos, não achou graça nenhuma quando foi perseguido no Jardim Paulistano, bairro nobre da capital paulista, na segunda-feira, 12. Às 8h30, Roberto Porto estava indo para a academia fazer ginástica. Dirigia seu Audi A3, quando na Rua Hans Nobiling foi perseguido por três bandidos dentro de um Ômega preto. A perseguição acabou encurralando o promotor até o muro do Clube Pinheiros, na rua Tucumã. Sem poder ir nem para frente nem para trás, Porto desceu e houve troca de tiros. Depois dos disparos, ele voltou correndo para o interior do carro, arrancou com tudo, abriu caminho e fugiu do bando. Na fuga, percebeu que tinha levado um tiro de raspão no joelho direito. Roberto Porto já atuou contra a máfia dos fiscais e atualmente investiga juntamente com outros promotores o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que age nos presídios, e a atuação da máfia chinesa no Brasil. "Achei que fosse morrer", contou Porto. "As primeiras investigações apontam para tentativa de roubo ou sequestro, mas eu não descarto nenhuma hipótese", disse ele, que também não descarta a possibilidade de ter atirado contra o próprio joelho. Professor de Direito Penal, Porto é divorciado e está no MP há nove anos. Segundo ele, as ameaças existem, mas alertou: "Quem não quer receber ameaça de morte é bom não entrar no MP." O Ômega que perseguiu o promotor pertence à Bolsa de Valores de São Paulo e havia sido roubado horas antes. A 1ª Delegacia de Roubos e Extorsões do Departamento de Investigações Criminais (Deic) está investigando o caso.

Máfia – Um dia depois da perseguição, os promotores do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) denunciaram Chen Wentian, apontado como gerente-arrecador da máfia chinesa em São Paulo, organização que sequestra, prática extorsão e mata comerciantes chineses em São Paulo. Wentiam foi preso em flagrante no dia 9 de outubro quando extorquia US$ 50 mil de um comerciante da rua Barão de Duprat. "Infiltramos agentes do MP dentro na comunidade chinesa e desse modo chegamos ao arrecadador", contou Roberto Porto. Com a prisão do gerente da máfia chinesa, os promotores apreenderam documentos comprovando a contabilidade do bando. O documento revela além do nome das vítimas o valor a ser extorquido delas. "Atuando no Brasil há cinco grupos. E só o Grupo Cantonês ao qual Wentiam pertence arrecada US$ 1,6 milhão por ano dos comercintes chineses estabelecidos no País", afirmou Porto. Os promotores do Gaeco estão investigando a máfia chinesa há mais de um ano e já levaram para a cadeia mais de 20 pessoas. Com a prisão de Wentia eles acreditam que estão chegando mais perto dos grandes chefões. "Estamos chegando cada vez mais perto no topo da máfia", garantiu José Carlos Blat. "Wentiam é o braço direito do Gordo, o comandante da organização toda aqui em São Paulo", afirmou Roberto Porto. No Estado de São Paulo há 150 mil chineses. "Aproximadamente 70% deles são extorquidos pela máfia", garantiu Porto.