As CPIs do Futebol na Câmara e no Senado podem não conseguir em quatro meses limpar os gramados, mas preparam uma bolada no estômago da imprensa esportiva brasileira. Na terça-feira 7, o jornalista Juca Kfouri, comentarista de futebol da Rede TV! e da rádio CBN, formalizou na Câmara uma acusação grave: repórteres pagos para cobrir ou comentar jogos de futebol têm se tornado agenciadores de atletas e intermediários em contratos entre clubes e empresas. Na quinta-feira 9, o presidente da CPI da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), decidiu investigar a origem do patrimônio do ex-repórter de campo da Rádio Globo Kleber Leite e do ex-repórter da Rádio Bandeirantes de São Paulo e ex-comentarista da Rede Globo José Hawilla. Leite, ex-presidente do Flamengo, vai ter que explicar como enriqueceu vendendo placas nos estádios e intermediando contratos de patrocínio. Hawilla, sócio majoritário da empresa de marketing esportivo Traffic, terá que contar como conseguiu intermediar o contrato de US$ 400 milhões entre a CBF e a Nike.

“Um jornalista não pode fazer jogo duplo”, afirma Rebelo. O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) decidiu fazer um requerimento convocando para depor, além de Leite e Hawilla, os ex-repórteres da Rede Bandeirantes Otávio Muniz e Luciano Jr., o ex-repórter da Rádio Globo de São Paulo Oliveira Jr. e o ex-sócio-diretor da Traffic Ciro José. Nenhum deles, por hora, vai como suspeito, mas a CPI acredita que têm muito o que contar. “Nunca fiz negócio com jogador. E não conheço jornalista que faça”, afirma Ciro, que hoje é o diretor internacional de Esportes a Motor da Rede Globo.

Na CPI, Kfouri contou que a promiscuidade não fica só no gramado. O jornalista disse que teve que sair da revista Placar, após 25 anos, porque foi proibido de criticar a CBF, comandada há 11 anos por Ricardo Teixeira. O Grupo Abril, dono da TVA, queria garantir para o grupo os contratos dos jogos da seleção. O comentarista disse que pelo mesmo motivo a revista Veja parou de fazer matérias criticando a CBF.

A CPI do Senado quebrou o sigilo bancário de sete empresas e 19 agentes autorizados pela Fifa no Brasil, entre eles Juan Figger, Reinaldo Pitta e Léo Rabello. Figger e mais dez empresários também são acusados por Renata Alves, ex-secretária do técnico Wanderley Luxemburgo, de fazer parte de um grupo que negociava jogadores. Na quinta-feira 9, Renata contou na CPI do Senado que Luxemburgo mantinha uma casa na Barra da Tijuca, no Rio, apelidada de “embaixada”, onde recebia empresários como Figger e Eduardo Sakamoto. Entre os que frequentavam a “embaixada”, segundo Renata, estava o dirigente do Vasco e deputado Eurico Miranda (PPB-RJ), terceiro vice-presidente da CPI da Câmara.