Quem já curtiu dançar de rostinho colado em algum baile ou festa de formatura e gostaria de experimentar a sensação de novo tem uma justificativa saudável para voltar a ensaiar rodopios. Diversos ritmos, especialmente os mais lentos, começam a se revelar como terapia complementar para pessoas estressadas ou propensas a sofrer de problemas cardíacos e mesmo circulatórios. “A dança ajuda a circulação do sangue, promove relaxamento do corpo e aumenta a auto-estima”, garante o cardiologista Mário Maranhão, de Curitiba. Por isso, ele costuma recomendar aos pacientes que convidem suas esposas para bailar. “É uma ótima atividade física e mental”, completa.

Bancar o Fred Astaire, ator consagrado como um dos melhores bailarinos da história do cinema, é uma boa opção para quem não gosta de suar a camisa na academia. O professor paulista Francisco Marto de Moura, 54 anos, está entre essas pessoas. Em março, ele se matriculou num curso de dança de salão por insistência da esposa, Wilma, 52 anos. “É uma excelente ginástica. Envolvido pela música, consigo relaxar e esqueço os problemas do dia-a-dia”, conta.

O benefício obtido pela dança pode ser o mesmo alcançado por al- guns exercícios feitos em centros de ginástica. “É uma atividade física como qualquer outra”, explica o fisiologista Paulo Zogaib, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Por isso, é importante procurar orientação com um especialista, já que é preciso calcular a intensidade adequada a cada dançarino. O grau do esforço pode ser medido por meio de teste ergométrico. Além disso, para que o baile traga benesses para o corpo é necessário entrar no ritmo com regularidade. De acordo com Zogaib, sacudir o corpo com fundo musical duas vezes por semana é o mínimo.

Trilha sonora – A escolha da modalidade de dança a ser praticada é mais um item a ser pensado. Longe de uma noitada suada de axé ou pagode regada a chope gelado, o tipo de exercício indicado para aumentar o condicionamento cardiovascular de iniciantes, por exemplo, está mais para bolero ou samba-canção, que pedem movimentos suaves e harmoniosos. Nesse compasso, o bailado pode ser comparado a um tipo de exercício capaz de aumentar a resistência e a força do coração. Meia hora dançando sem parar nessas condições tem quase o mesmo efeito de pedalar numa bicicleta ergométrica com energia controlada e pouca carga. “As atividades de baixa intensidade e duração prolongada colaboram para o controle da pressão arterial e do colesterol”, afirma Zogaib. Os ritmos mais lentos também estimulam o tônus muscular, o que ajuda a controlar problemas como as varizes das pernas. Elas surgem por causa de dificuldades circulatórias que tornam mais lento o retorno do sangue pelas veias. “Sozinha, a dança não resolve, mas é um excelente coadjuvante no tratamento”, assegura o cirurgião vascular Wilson Rondó, de São Paulo. As atividades de alto impacto, como a ginástica aeróbica, são contra-indicadas para quem tem varizes porque sobrecarregam o sistema circulatório e as articulações.

Não é necessário esperar um parceiro para desfrutar o prazer de soltar o corpo ao som dos ritmos. A professora de Educação Física Rosângela Accioli, 37 anos, dança sozinha na Escola de Reeducação do Movimento, em São Paulo. Rosângela, que dá aulas de ginástica chinesa, encontrou no trabalho corporal e nas danças étnicas do curso o caminho para livrar-se das dores na coluna lombar e nos pés, adquiridas durante os anos em que foi bailarina clássica profissional. “As modalidades étnicas ajudam a redescobrir o movimento, a flexibilidade e o equilibrio corporal”, diz ela, que prefere os estilos indiano e grego. O cantor lírico Rodolfo Giugliane, 24 anos, também não se importa de experimentar ritmos diferentes. “Conquistei mais agilidade e espontaneidade no palco e perdi sete quilos em dois meses de aula”, comemora. Giugliane diz que os exercícios e o bailado étnico viraram seu esporte. Outro aspecto comum entre os dançarinos é a mudança positiva de comportamento. “Quando tem a possibilidade de mexer o corpo, o aluno acaba trabalhando também as emoções. Ele fica mais desinibido com a dança”, assegura o coreógrafo J.C. Viola, de São Paulo. Com ele concorda a bailarina e professora de dança Mônica Monteiro, que há muitos anos ajuda as pessoas a reencontrar o equilíbrio e o bem-estar corporal através dos ritmos musicais. “A timidez e a insegurança diminuem, os movimentos ficam mais espontâneos”, confirma. Para ela, tanto faz o estilo, seja axé, bolero, rock’n’roll ou música eletrônica. “As danças trabalham para o bem da pessoa de qualquer forma”, reforça. O melhor de tudo é que ninguém precisa ser tão bom quanto Fred Astaire, que viveu até os 88 anos, para se beneficiar dos passinhos.