Coluna: José Manuel Diogo

Fundador da Informacion Capital Consulting e Diretor da Câmara de Comércio e Industria Luso Brasileira em Lisboa onde coordena o comité de Trade Finance é o autor do estudo "O Potencial de Expansão das Exportações Brasileiras para Portugal”. Atua atualmente como investidor e consultor, estando envolvido em projetos de intercâmbio internacional nas áreas do comércio, tecnologia e real estate. Vive com um pé em cada lado do Atlântico, entre São Paulo e Lisboa. É autor e colunista na imprensa internacional sobre temas de investimento, importação e exportação e inteligência de mercado. É um entusiasta da cultura e da língua portuguesa.

Bolsonaro, o verde

José Manuel Diogo
Foto: José Manuel Diogo

Rolou um clima na cúpula e Bolsonaro disse: “Coincidimos, Senhor Presidente Biden, com o seu chamado ao estabelecimento de compromissos ambiciosos. Nesse sentido, determinei que nossa neutralidade climática seja alcançada até 2050, antecipando em 10 anos a sinalização anterior”.

A fala é boa. Mesmo que Biden nem estivesse ouvindo (ele levantou da cadeira quando o presidente falou) e Bolsonaro estivesse mentindo. Ela é boa porque mostra um Brasil convergindo com o mundo num dos pontos onde é mais importante o Brasil convergir. No ponto onde o Brasil é vital para a humanidade.

Concordar com Bolsonaro é raro e é preciso fazê-lo com caução. Mas devemos fazê-lo. Porque é melhor concordar com ele mentindo para o bem o Brasil, que discordar daquelas verdades que às vezes ele fala. Quando Trump estava na Casa Branca ele dizia o contrário, mas hoje, ao anunciar uma nova rota de posicionamento ambiental para o Brasil, mesmo que seja mentira, isso é positivo. Até relevante .

 

O Brasil não irá explodir numa euforia verde e acabar com toda clorofilagem ilegal na Amazônia. Nem é presumível que o mesmo Bolsonaro que acusava o ator americano Leonardo Di Caprio de ser incendiário — há menos de dois anos — tenha mudado radicalmente a sua ideia sobre o desmatamento.

Mas não são as ideias de Bolsonaro que interessa aqui: é a mensagem que ele passa, transmitindo para o exterior (e para os seus eleitores) que o Brasil se preocupa (de novo) com o ambiente.

O caminho para conseguir o apoio internacional não é o enfrentamento irresponsável e jocoso com que o presidente muitas vezes — vezes demais — delapida a imagem do Brasil lhe angariando fama de “pária mundial”. Isso custa uma grana preta! E dá uma dor que é um dó…

Se o Brasil tem a maior extensão de florestas tropicais do mundo e a segunda maior cobertura florestal do planeta, é também fundamental não esquecer que, ao contrário da maior parte dos países atingidos pelos danos causados pelas alterações climáticas, o Brasil não destruiu todas as sua florestas no passado. E deve ser compensado por isso.

Assim, quando o presidente reclama a necessidade de apoio financeiro da comunidade internacional para a preservação da Amazônia, ele tem mais chances de ser ouvido. E o clima mais chances de ser defendido. E o mundo mais chances de ser salvo. E o Brasil mais chances de ser próspero.