Se isso já não lhe aconteceu, imagine que você está digitando as últimas palavras de uma extensa tese, um currículo, um e-mail ou qualquer outro tipo de texto e, de repente, para seu desespero, a tela à sua frente se apaga. Se você é prevenido e salvou o que estava fazendo, só terá de esperar a energia voltar e religar o computador. Se não, terá uma boa dor de cabeça para recuperar o que perdeu. Provavelmente, será obrigado a digitar tudo novamente. O que você talvez não sabia é que foi vítima de um legítimo desastre.

Na escala de uma empresa, problemas como esse significam mais do que dores de cabeça. Falhas em centrais de processamento de dados, ou em qualquer máquina da linha de produção, podem trazer prejuízos gigantescos. Quando não, a própria falência do negócio. Por isso, o mundo corporativo chama literalmente de desastre qualquer evento que possa interromper a atividade da empresa. Em nossa escala, dos usuários comuns, é possível se proteger com uma série de pequenas precauções, como sempre salvar o que se está produzindo no PC e fazer uma cópia em disquete de arquivos importantes. No caso das empresas, a prevenção é mais complexa, cara e vital.

Mas essa sombra catastrófica começa a ser iluminada por uma boa notícia. Já existem no mercado americano – e começam a chegar ao Brasil agora – companhias especializadas justamente em minimizar as consequências que desastres podem trazer ao mundo corporativo. Começando pelo velho ditado: é melhor prevenir do que remediar. Embora não sofra a ação avassaladora de terremotos e furacões, como nos EUA, o Brasil vê quase todos os dias nos telejornais a sanha destruidora das enchentes, dos incêndios e das falhas no fornecimento de energia. Mais recentemente, dos ataques de hackers.

“Desastre é qualquer coisa que interrompa a circulação de dados de uma empresa”, disse Jim Simmons, presidente da SunGuard Recovering, empresa americana de recuperação de desastres, durante conferência do setor ocorrida recentemente em San Diego (EUA). Então, segundo ele, uma simples queda de energia pode ser considerada um dos desastres mais danosos. Nos EUA, 72% das quedas de sistema de informática verificadas nos últimos cinco anos foram causadas por falta de luz, afirma uma pesquisa da empresa de consultoria Ernst & Young.

“Uma parada nos computadores de uma empresa pode gerar milhões de dólares de prejuízo”, diz Paulo Beck, presidente da empresa paulista X-Corp Potenza, especializada no que o setor chama de “planos de continuidade de negócio”. E ele explica: “Você não pode evitar a ocorrência de um furacão, mas tem condições de evitar os problemas que ele causa a uma companhia.” Nesse sentido, os consultores das empresas de recuperação de desastre analisam o negócio dos seus clientes, identificam quais são os processos mais importantes e estabelecem planos de emergência para serem usados quando algo ocorrer. Atualmente, com o avanço do comércio eletrônico, mudou o foco dessa indústria.

Há diversas armas para combater desastres e garantir a continuidade dos negócios. A americana NSN, por exemplo, oferece satélites para redirecionamento do fluxo de dados caso um servidor importante de alguma cliente apresente falhas. Outras empresas são especialistas em transformar caminhões em unidades móveis que podem substituir escritórios incendiados. A alemã Lampertz, representada no País pela Aceco, é especialista na construção de salas-cofres – ambientes climatizados, com controle de acesso, suprimento de energia e proteção contra fogo, fumaça, água e roubo – que servem para abrigar centros de processamento de dados.
Além desses serviços, a empresa que decidir ficar realmente prevenida já tem condições de construir verdadeiras réplicas de determinados locais de trabalho. Que são deixadas de sobreaviso para entrar em ação se ocorrer algum acidente com a sede da empresa. Esse já é o caso do banco Itaú. A instituição mantém em Campinas um centro de processamento de dados pronto para substituir os centros de São Paulo e do Rio de Janeiro se algum deles sofrer um desastre. Fibras ópticas e satélites garantem que o centro do interior receba uma cópia automática dos dados que circulam pelos centros das duas capitais “Essas precauções são vitais para uma instituição financeira”, diz Enio da Silva Neves, superintendente de controles internos do banco.

Pesquisas já comprovam que, pelo menos nesses casos, é mesmo mais lucrativo prevenir do que remediar. Cerca de 60% de empresas americanas atingidas por um grande desastre desapareceram em dois anos, afirma estudo publicado na revista Disaster Recovering Journal, bíblia da área nos EUA. Estudo da empresa Contingency Planning Research mostra que uma grande companhia da área de transportes que fique uma hora sem funcionar perderá cerca de US$ 28 mil. Esse valor já sobe para US$ 6,4 milhões de prejuízo se a vítima for um grande site de comércio eletrônico. “Mesmo que a empresa não tenha prejuízos imediatos, pode perder mercado e ter prejuízo na imagem”, diz Sidney Modenesi, diretor de contingência e continuidade dos negócios da empresa brasileira Sun Software. O que explica os US$ 3 bilhões que os americanos já estão gastando por ano na prevenção de desastres. É uma prevenção cara, mas o remédio, pelo visto, pode custar muito mais.