A paulistana Suellen Capurisse, de 25 anos, ainda estava na fila de imigração do aeroporto internacional de Istambul quando recebeu a primeira informação de que algo estava acontecendo. Pelo telefone, seu namorado, um turco residente em Istambul, lhe avisara do que estava em andamento. “Falando em golpe militar, minha primeira comparação foi golpe do Temer”. Ela achou que não haveria grandes mudanças de rotina naquele dia.
O namorado, apesar de tê-la tranquilizado dizendo que não se tratava de um ataque terrorista, disse para que ela chegasse em casa o mais rápido possível. Suellen foi até a parte externa do aeroporto procurar um taxi, e percebeu que a situação era mais complexa do que imaginara. “Não tinha uma viva alma, não tinha carro, nem taxi.”
Voltou ao saguão, onde as pessoas, apesar não estarem em pânico, aparentavam muita tensão — principalmente, diz ela, as que entendiam turco e sabiam com mais precisão o que se passava. Encontrou o guichê de uma empresa de taxis executivos, e entrou no pequeno escritório para esperar que as vias fossem desbloqueadas.
Depois de cerca de dez minutos no cubículo, começou uma gritaria no saguão, e pessoas, adultos, velhos e crianças, corriam desesperadas. Seis passageiros em pânico entraram no pequeno escritório, entre elas uma mulher aos berros e manquitolando. Todos se jogaram ao chão, como que esperando um tiroteio. “Fiquei paralisada assistindo àquilo.”
A incompreensão parcial do idioma a deixava desorientada. Se esforçando, conseguia conversar com o homem do táxi em turco. Ele tentava tranquilizar Suellen. “Não chora, por favor. Você está dentro da minha loja e vai usar o nosso carro! Está protegida!” Quando receberam a informação de que as ruas estavam transitáveis, saíram.
Sullen não é uma iniciante na Turquia. Passou o último ano vivendo no país como estagiária na área de comércio exterior de uma empresa de doces. Havia vindo ao Brasil para conseguir seu visto de trabalho e chegou a Istambul decidida a fixar residência na maior cidade da Turquia.
No caminho para a casa do namorado, a falta de fluência de Suellen na língua turca só a permitia entender algumas palavras chave reproduzidas pelo rádio do táxi, como “bomba” e “explosão”. Isso, aliado à quantidade de manifestantes na rua, mantinha a tensão em níveis altos. Logo no começo do caminho, uma multidão os prendeu por pelo menos duas horas.
Suellen só foi ficar tranquila quando chegou na casa do namorado, às quatro da manhã. Não conseguiu dormir logo. Em parte porque ainda está funcionando no fuso Brasil, parte nervosismo. E também por ter muito o que conversar. Afinal, depois de um golpe militar, não falta assunto.