Apesar do nome, Cécile de France nasceu na Bélgica. Virou uma estrela internacional – filmes franceses, belgas, passagens por Hollywood, uma minissérie (de Paolo Sorrentino), que acaba de concluir. Numa entrevista por telefone, de Paris, ela confirma o que disse ao repórter a diretora Catherine Corsini, de Um Belo Verão. “Quando ela me propôs o papel, disse não, mas não foi por preconceito. Havia feito quatro ou cinco personagens lésbicas e queria dar um tempo. Não queria ficar rotulada, da mesma forma que alterno filmes de autor e comerciais. Nessa profissão, é muito comum você ser identificada por um tipo de personagem ou filme. Disse não, mas Catherine retrucou que ia me mandar o roteiro para eu dar uma olhada. Tão logo comecei a ler, não parei mais. Brinquei com meu marido – ‘Lá vou eu, mais uma lésbica.’ E fiz.”

E o que havia de tão interessante na personagem? “O filme retrocede aos anos 1970 para mostrar os primórdios do movimento feminista na França. Faço a garota da cidade (Paris), Izïa Higelin faz a que vem do interior, de uma granja. Em princípio, nada nos une, mas vamos viver uma intensa história de amor. Não podia recusar. Vi outro dia uma entrevista de (Pedro) Almodóvar na TV e ele se dizia decepcionado com os franceses, que reagiam ao casamento gay. Pensei comigo – ‘Essa não é uma guerra que diga respeito somente a gays e lésbicas. Todo mundo que acredita numa sociedade mais humana e tolerante tem de se engajar.’ Foi o que fiz.”

O repórter desculpa-se, mas faz a inevitável pergunta sobre as cenas de sexo. Hás três anos, Abdellatif Kechiche fez sensação com as cenas hard de A Vida d’Adèle, que venceu a Palma de Ouro e foi lançado no Brasil como Azul É a Cor Mais Quente. “Desconfio de quem diz que não tem problemas com cenas de sexo. Ela são sempre invasivas. Mas vou lhe dizer que sexo na tela foi mais fácil com uma mulher. E o fato de Catherine ser mulher, e lésbica, fez uma diferença enorme. Por mais que goste de Adèle, é um olhar masculino. Me parece que tem ali um tanto de voyeurismo. Discutimos muito nossas cenas de sexo – Catherine (a diretora), Izïa (a outra atriz) e eu. Mais do que como filmar, sabíamos o que não queríamos. Acho que ficaram na medida.”

Desde que se iniciou, em 2002, com O Albergue Espanhol de Cédric Klapisch, Cécile de France tem alternado os tais filmes de autor com projetos mais comerciais. Um Jackie Chan (Volta ao Mundo em 80 Dias – Uma Aposta Muito Louca), um Clint Eastwood (Além da Vida), um irmãos Dardenne (O Garoto da Bicicleta), e por aí vai. Indicada quatro vezes para o César, o Oscar francês, venceu duas – foi melhor coadjuvante, por O Albergue Espanhol, e melhor atriz, em 2006, por outro filme do diretor Klapisch, Bonecas Russas. Há muita expectativa por The Young Pope, o novo Sorrentino, no formato série, gravado na Itália – em coprodução da HBO com Canal + e Sky – e que estreia em outubro, na TV dos EUA. Antes disso, dois capítulos, num total de oito, terão sua pré-estreia no Festival de Veneza. Jude Law faz um papa fictício, Pio XIII, que fuma feito chaminé. “Paolo diz que é um filme ambíguo, sobre os sinais da fé e a ausência da fé. Adorei fazer. Ele é um diretor exigente reuniu um elenco muito bom – Jude Law, Diane Keaton, Javier Cámara, eu e muita gente mais.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.