11/07/2016 - 7:30
A Nissan acredita que o setor automotivo brasileiro já saiu do fundo do poço, está num período de estabilização e entrará numa trajetória gradual de recuperação nos últimos seis meses de 2016. “O primeiro semestre foi de um mercado de 158 mil carros vendidos por mês na média. Para o segundo semestre, vejo um mercado de 170 mil vendidos carros por mês. É o início da recuperação”, disse em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o presidente da empresa no Brasil, François Dossa. Baseado nesta hipótese, ele aposta que o setor voltará a crescer já em 2017, ainda que timidamente.
A afirmação coincide com o discurso de outras montadoras instaladas do Brasil, que confiam que o pior da crise já passou. Mas contrasta com a avaliação de analistas que sustentam que o fundo do poço só virá na passagem de 2016 para 2017. De acordo com muitos especialistas, mesmo com a melhora das perspectivas econômicas o consumo de carros continuará esbarrando, no curto prazo, no elevado índice de desemprego e na restrição de crédito.
O executivo francês, radicado há anos no Brasil e no comando da Nissan desde janeiro de 2013, discorda. Ele entende que o País está saindo de um ciclo de retração econômica e isso será suficiente para impulsionar o mercado. Para Dossa, se o impeachment da presidente da República afastada, Dilma Rousseff, for confirmado e o governo de Michel Temer acertar na condução da política econômica, ocorrerá um efeito cascata sobre as expectativas dos consumidores. “Muita gente tem o dinheiro, mas deixou de comprar carro por causa de expectativa”, afirma, explicando que há uma demanda reprimida que deverá ser destravada. “Começa com isso: tudo é uma questão de expectativa.”
Segundo ele, a retomada terá início no segundo semestre deste ano, principalmente em novembro e dezembro. O período pós-impeachment e pós-eleições municipais dará o tom do que será 2017 e ajudará a amenizar o tombo em 2016 – a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) projeta um recuo de 19% nas vendas.
Ainda segundo Dossa, em 2017 o mercado automotivo brasileiro deverá apresentar um crescimento tímido. Um possível “boom” do setor, na sua percepção, só poderia ocorrer depois das eleições presidenciais de 2018. “O Temer poderá fazer uma transição, recolocar o Brasil numa rota de crescimento, mas a grande questão será em 2018. Se entrar alguém com uma política econômica afiada, daí sim podemos ter um ‘boom’. Agora a economia cresce mais é na carona da mudança do ciclo econômico”, disse.
Contramão
No caso da Nissan, o ritmo de recuperação tende a ser diferente que o do setor. A montadora japonesa está há menos tempo no Brasil – sua fábrica principal, em Resende, no Rio de Janeiro, foi inaugurada em 2004 – e por isso vive um ciclo particular de desenvolvimento. “Quando a crise começou eu estava com um turno só. Não tive o mesmo problema de alguns competidores que demitiram, que fecharam fábrica. Pelo contrário, agora vamos contratar”, diz o executivo.
A empresa pretende incorporar pelo menos 600 funcionários ao quadro a partir de novembro. O objetivo é inaugurar o segundo turno de trabalho em Resende para produzir o modelo Kicks, um SUV compacto que será lançado em agosto, coincidindo com a abertura dos Jogos Olímpicos – a Nissan é patrocinadora tanto da competição como do evento de revezamento da tocha olímpica.
Por enquanto, o novo veículo está sendo fabricado no México, para dar conta de atender à demanda inicial. A partir do ano que vem, o Kicks será um produto brasileiro. Hoje, a planta de Resende já produz o March e o Versa, além de motores e componentes. O plano de negócios prevê um investimento de R$ 750 milhões no Brasil entre 2016 e 2018. “Estamos investindo, completamente na contramão. Estou apostando nesta retomada. O Brasil já foi o quarto mercado automotivo do mundo, hoje é o sétimo, mas vai recuperar a posição. Quero preparar a Nissan para esta recuperação”, afirmou.
Em 2015 a montadora registrou queda nas vendas, mas elevou sua participação no mercado brasileiro para 2,47%. A expectativa de Dossa é de que, em 2016, eles tenham um crescimento de market share mais expressivo, que seja provocado por um aumento do volume de vendas. O objetivo é passar dos 3% de fatia de mercado este ano e dos 4% no ano que vem.
O otimismo da Nissan não se restringe ao mercado interno. Em março, a montadora deu largada num plano de exportação para a América Latina a partir da fábrica de Resende. “Já começamos a mandar para o Paraguai e a Bolívia. Agora vem o Chile, depois Argentina, em outubro, e na sequência Panamá e Costa Rica”, relatou. Exportar para a Colômbia também está na mira, mas depende da assinatura de um acordo bilateral.
“São países para onde a Nissan já vendia e quem fornecia era o México. Agora o México está me passando toda esta produção, para que ele possa exportar para os Estados Unidos. Isso é bom para a Nissan de forma global”, explicou, acrescentando que a recente apreciação do câmbio não preocupa, já que a empresa também traz alguns modelos de fora e, desta forma, faz uma espécie de hedge natural.
A pretensão de Dossa é de que, a partir de 2017, 30% da produção brasileira seja destinada à exportação e 70% ao mercado interno. “Isso é um equilíbrio que eu acho bom e gostaria de manter para sempre”, disse.