As abelhas usam pistas visuais para medir distâncias de até centenas de metros que separam sua colméia de uma fonte de alimento. Esse "odômetro óptico", descoberto há quatro anos, está sendo cuidadosamente estudado pelos cientistas do Departamento de Defesa dos EUA para ser empregado em um novo tipo de arma para as Forças Armadas americanas. "A abelha tem a capacidade de usar imagens em movimento, como árvores e flores, para monitorar seu vôo, e assim calcular distâncias", explica um dos autores da pesquisa, o professor da Universidade Nacional da Austrália, Mandyam Srinivasan. "A percepção delas é semelhante à que temos quando vemos passar zunindo pela janela do carro uma sequência de postes de uma rua, o que aumenta nossa sensação de velocidade e da distância percorrida", diz o cientista. Descobrir como as abelhas fazem isso irá ajudar os governos dos EUA e da Austrália a desenvolver um novo tipo de tecnologia militar. "Estamos interessados em criar pequenos veículos voadores autônomos de reconhecimento militar, que incorporem alguns princípios dessa visão de inseto", conta Srinivasan em um artigo científico assinado por ele no penúltimo número do periódico Science.

Na pesquisa constatou-se que quando a abelha localiza uma fonte de alimento a mais de 50 metros da colméia, ela volta à colônia e informa às demais o achado e a distância por meio de uma dança. Ela balança o abdômen apontando o corpo na direção do alimento. Quanto mais demorada for a dança, mais longa a distância que as separa do local do alimento. Porém, se o alimento está a menos de 50 metros da colméia, a abelha simplesmente dá algumas voltas com o corpo, o que os cientistas chamam de "dança giratória". Nos anos 60, já se desconfiava que a abelha tem esse poder de medir distâncias – acreditava-se que a medição fosse feita avaliando a energia gasta no vôo entre a colméia e o alimento. Daí, em 1996, descobriu-se que essa capacidade poderia estar ligada à percepção visual. Uma experiência mostrou que abelhas voando entre pré-dios muito altos faziam uma dança que sugeria que tinham voado metade da distância percorrida por outra abelha que voara rente ao solo. A conclusão foi a de que referências muito próximas, como a do chão, davam uma sensação de mais distância percorrida do que referências longínquas. "Do alto não temos a mesma impressão de velocidade e distância percorrida tanto quanto se estamos mais rente ao chão", explica o cientista australiano.

Baseados nesse trabalho, Srinivasan e seus colegas conseguiram influir na dança das abelhas alterando artificialmente suas referências visuais. Fizeram isso usando tubos de plástico de diversos comprimentos, cujo interior foi decorado alea-toriamente com motivos em branco e preto. Uma das pontas dos tais tubos foi posta próxima às colméias. Na outra extremidade deixava-se um doce, atraindo as abelhas a voar por dentro do tubo para chegar ao alimento. Então compararam a distância real dentro do túnel percorrida pela abelha e a que ela comunicava ao resto da colméia. Ficou evidente que uma alteração nos desenhos dentro do túnel enganava a abelha: ela acabava comunicando uma distância maior do que a efetivamente percorrida devido à ilusão que os desenhos causavam em sua visão.

A pesquisa foi patrocinada pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada, do Departamento de Defesa dos EUA (Darpa), e pela Organização de Ciência e Tecnologia do Departamento de Defesa da Austrália. Segundo Alan Rudolph, chefe de programas de pesquisa da Darpa, pretende-se agora construir pequenos veículos aéreos, "de apenas 15 centímetros de comprimento ou menor do que isso". No campo de batalha, esses aparelhinhos voadores fariam as vezes de velozes batedores, executando missões de reconhecimento a distância. Embora o texto da Science não revele detalhes técnicos da pesquisa militar, informa que o objetivo é descobrir como funciona o mecanismo óptico das abelhas e adaptá-lo para a microeletrônica com o uso da nanotecnologia (tecnologia de pequeníssima escala). Não é por acaso que, há duas semanas, o presidente Bill Clinton reservou para a área de nanotecnologia boa parte dos US$ 7 bilhões do próximo orçamento de pesquisa científica patrocinada por seu governo.

Ases
Curioso é que, na mesma semana do artigo de capa da Science, outra grande publicação de trabalhos científicos, a Nature, trouxe um artigo com mais uma descoberta sobre a destreza das abelhas. Como os ases da aviação militar, as abelhas designadas para a tarefa de colher alimentos passam por um curso de treinamento bastante sofisticado. Os estudiosos desses insetos sempre ficaram intrigados com a capacidade de vôo – muito rápido e a grande distância da colméia – das abelhas, que se valem apenas dos olhos, sem o recurso de algum tipo de radar, como o dos morcegos. Pesquisadores da Universidade de Illinois, nos EUA, conseguiram prender refletores ultraleves em algumas abelhas e, assim, monitorar seu vôo. Concluíram, então, que as abelhas jovens fazem vôos de aprendizado sobre uma área bem ampla à volta da colméia, para conhecer todo o relevo e particularidades. São vôos cada vez mais velozes, numa clara intenção de aperfeiçoar a destreza.