As montadoras de veículos fizeram o jogo direitinho. Responsáveis por 270 mil empregos diretos e indiretos, multinacionais como a Volkswagen, Fiat, General Motors e Ford mostraram na semana passada mais uma vez o poder que têm sobre os rumos da política econômica. Desde março elas vinham se beneficiando de uma redução de 50% no IPI e no ICMS graças a um acordo destinado a evitar demissões em massa. Em troca, o governo exigiu preços estáveis, além de um desconto de até R$ 350 por veículo. O consumidor ficou feliz e viu a carga de impostos nos carros cair de 33,8% para 26,9%. Mas na terça-feira 4 os fabricantes mandaram o acordo para o espaço e anunciaram aumentos de até 10%. "A desvalorização do real elevou nossos custos. No primeiro trimestre, as quatro maiores montadoras perderam R$ 1,3 bilhão", afirma José Carlos Pinheiro Neto, presidente da Anfavea, a associação das montadoras. A decisão tirou o sono dos metalúrgicos. Cerca de 40 mil trabalhadores estavam ameaçados de ir para o olho da rua com a queda nas vendas e sindicalistas organizaram passeatas e greves para sensibilizar a população. Era o que as fábricas queriam. Na quinta-feira 6, o presidente Fernando Henrique assinou um decreto prorrogando o acordo até 26 de maio. Em contrapartida, as montadoras concordaram em mostrar suas planilhas de custos para que o governo confira os prejuízos do início do ano.

Está provado que o crescimento nas vendas provocado por esse tipo de benefício ao setor automobilístico não compensa necessariamente a renúncia de impostos (leia tabela). Vale lembrar que a carga tributária nos veículos caiu dos 87,1% de 1986 para os 33,8% de agora. Isso num país cujo governo gasta muito mais do que arrecada. Em março, a Receita Federal registrou inclusive uma retração geral de 4% nos tributos recolhidos sobre o período de 1998. Apesar de o desemprego ser o problema mais grave do País, há gente em Brasília que entende que outros setores da economia mereceriam mais atenção do que as montadoras. Pinheiro Neto discorda. "Nossos salários são oito vezes maiores que os da construção civil e oferecemos mais benefícios, como planos de saúde." O consultor José Roberto Ferro faz coro com o empresário. "O Brasil é o país que mais tributa a produção de carros. E os impostos recolhidos vão para um péssimo serviço social." O aumento nos preços dos carros, segundo ele, se justifica inclusive porque a concorrência está mais acirrada com a chegada de novas fábricas. No ABC, Luiz Marinho, presidente do sindicato dos metalúrgicos, nega que trabalhou em favor das multinacionais. "Não concordo com a recusa em negociar o aumento dos preços. A gente se mobilizou para defender o emprego", alega. Vencida essa queda-de-braço, as montadoras apostarão num acordo de renovação da frota para conseguir incentivos permanentes.