Barroca e fragmentada, a primeira parte do "teatro-novela em quatro exclamações" de José Celso Martinez Corrêa, centrado na mítica atriz paulista Cacilda Becker (1921-1969), se inicia com o trágico aneurisma que a levou ao coma no intervalo da peça Esperando Godot. Durante fluentes três horas e meia (incluído o intervalo), o espetáculo mistura lances da vida de Cacilda – encarnada com garra por Bete Coelho –, e os personagens que ela interpretou, a momentos-chaves do teatro brasileiro. Na verdade, o coma da atriz, transformada pelo diretor em sacerdotisa dos palcos, se revela uma alegoria do marasmo criativo no qual a produção nacional mergulhou. Descontadas as passagens cifradas e certos vícios de atuação, o que se vê é uma sucessão de cenas fulgurantes num verdadeiro manifesto a favor da paixão teatral. (I.C.)
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